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Arquivo com os Exercícios de Filosofia Clínica contendo as respostas comentadas:

 

Leia parte do que pensa a jornalista norte americana Marcia Angell, autora da obra “A verdade sobre os laboratórios farmacêuticos – como somos enganados e o que podemos fazer a respeito”, que acaba de ser lançada no Brasil pela editora Record. Reproduzimos trecho da entrevista à Editora Três.

 

Leia a matéria e trabalhe com os colegas em seu centro de formação três questões:

1. Existe uma indústria de remédios interessada em produzir uma indústria da saúde e da doença?

2. Remédios são de fato remédios ou remédios são fontes de "doenças" existenciais?

3. Filósofos deveriam discutir a prescrição de medicamentos?

 

Motoboys sofrem com problemas psicológicos, segundo pesquisa da UFRGS

 

Ao avaliar as

 

Os laboratórios farmacêuticos querem que acreditemos que eles têm de cobrar altos preços pelos medicamentos por conta dos investimentos com pesquisa e desenvolvimento de novas fórmulas. Mas isso não é verdade. Na prática, eles gastam mais de duas vezes em marketing do que gastam em pesquisa e desenvolvimento e têm embolsado, em termos de lucro, mais dinheiro do que o valor gasto nessas duas áreas. Então, é correto afirmar que os altos preços cobrados por eles cobrem os imensos gastos em marketing e mantêm os lucros absurdos. A verdade está na nossa cara. Qualquer um pode ir aos websites das companhias e ver o relatório anual para descobrir o quanto eles têm dito que gastam em pesquisa e desenvolvimento e o quanto gastam em marketing e administração.

DINHEIRO – Quais são os valores?
ANGELL – A indústria fala que desembolsa cerca de US$ 802 milhões para criar um novo medicamento (segundo levantamento do setor de 2002), mas análises de especialistas independentes informam que o valor é apenas uma pequena fração disso (algo entre US$ 71 milhões e US$ 150 milhões, segundo levantamento da Healthy Research Group). Somente uma parte mínima do que é lançado pode ser realmente classificada como novos medicamentos.

DINHEIRO – No Brasil, os preços começaram a cair de forma mais acelerada recentemente, com a expansão do mercado de produtos genéricos. Por que os medicamentos são tão caros ainda?
ANGELL – O que as empresas dizem é que o alto risco do negócio exige investimentos elevados sem garantia de sucesso no desenvolvimento de medicamentos. No entanto, ano a ano as companhias do setor registram os lucros mais elevados entre todas as indústrias da economia. Em 2004, a lista das nove maiores empresas do setor nos EUA, montada pela revista “Fortune 500”, mostrava que a margem de lucro média do segmento atingia os maiores patamares entre todos os setores da economia norte-americana. Essa taxa foi de 16% das vendas em 2004, comparada com a média de 5,2% de todas as empresas verificadas pela pesquisa. São os consumidores que pagam por esse enorme lucro.

DINHEIRO – É possível saber se os valores gastos pelos consumidores têm crescido?
ANGELL – Os americanos gastam quase duas vezes mais, em média, pelos mesmos medicamentos adquiridos por canadenses e europeus. Nessas duas regiões, os países possuem formatos de regulação de preço, com intervenção governamental, que os EUA não têm. Eu não posso dizer que a situação dos países emergentes, como o Brasil, é semelhante à que ocorre nos Estados Unidos, com valores exorbitantes cobrados pelas mercadorias, mas eu suspeito que as companhias farmacêuticas colocam o preço que querem em seus produtos e isso também acontece no Brasil.

DINHEIRO – A sra. já disse algumas vezes em entrevistas que as empresas do setor “vendem” doenças que não existem...
ANGELL – As companhias freqüentemente vendem doenças que podem ser tratadas pelos remédios que estão lançando, em vez do contrário. Elas apresentam medicamentos para tratar, por exemplo, o que as empresas chamam de “desordem de ansiedade social”, que nada mais é que a timidez. Há casos em que os laboratórios ampliam a definição dos fatores de risco de uma doença. Todo mundo sabe que comer muitos produtos gordurosos pode ser perigoso, eleva o colesterol e, em alguns casos, requer tratamento com drogas. A questão aí é que os “especialistas”, com ligações financeiras com a indústria, ficam baixando o nível considerado normal e todo mundo pode entrar no nível de risco, entende? Então, nesse cenário, muita gente toma remédio para baixar o colesterol sem necessidade.

DINHEIRO – Em seu livro, a sra. afirma que a indústria farmacêutica tem enchido o mercado com produtos que a sra. chama de “medicamentos de imitação”. Como isso pode acontecer? Não há fiscalização dos órgãos reguladores?
ANGELL – As companhias do setor têm despejado os medicamentos de imitação no mercado porque eles querem aumentar os ganhos imediatos, fazendo lucro certo e rápido por meio da fabricação das ditas “novas” versões, que foram, na realidade, criadas a partir de velhos medicamentos. Muitos remédios de imitação têm boas perspectivas de êxito, o que acaba levando esse mercado a um crescimento enorme, impulsionado facilmente pela ação publicitária. Existe hoje toda uma família de produtos de imitação. Por exemplo, existem seis remédios muito similares para o controle do colesterol. Um deles, o Lipitor, da Pfizer, está entre os produtos “top” do mercado, mas ele é realmente um produto de imitação. Eu acho que o consumidor está cansado dessa situação, de pagar preços exorbitantes por mercadorias por conta de gastos astronômicos das empresas em suas marcas e também na área administrativa. O FDA (U.S. Food and Drug Administration, órgão de controle desse mercado nos EUA) informa que próximo a 80% do que foi lançado pelas empresas nos últimos sete anos não eram mercadorias muito melhores ou diferentes do que aquelas que já estavam sendo vendidas pelo mercado. Mas eles não podem fazer nada. A ação do órgão se restringe a liberar medicamentos que tenham efeito sobre a doença identificada. E o produto irá agir, já que ele é uma cópia de outros medicamentos que já atuam sobre a doença. Então não há muito o que fazer nesse sentido.

DINHEIRO – O que seria necessário para mudar esse cenário? Elevar a fiscalização em cima dos grupos, ou implantar mudanças mais drásticas por meio do poder público?
ANGELL – Eu propus em meu livro um programa de reformas vitais para o setor. Talvez a mais importante seja a criação de uma norma que determine que as companhias comparem com maior rigor o desenvolvimento de “novas” drogas que são uma cópia daquelas já fabricadas pelas empresas. No sistema atual, essa comparação, que é necessária para que haja a liberação do FDA, acontece com produtos de baixa qualidade, com “pílulas de açúcar”. Então, nessa história, compara-se um novo lançamento com alguma coisa que é melhor que nada. Isso torna possível que as companhias continuem colocando no mercado produtos copiados, em vez de investirem realmente em mercadorias de que a população precisa urgentemente. Essa população conta com o aparecimento de avanços científicos importantes, que os laboratórios podem e devem coordenar.

DINHEIRO – Há conivência com os médicos?
ANGELL - Para se ter uma idéia, há questões éticas nisso também. Os laboratórios dão presentes e privilégios para os médicos. Eles provavelmente gastam bilhões de dólares ao ano cortejando os doutores. Isso é evidentemente um absurdo. Contamina o sistema porque deixa o médico desconfortável, menos propenso a realizar críticas e a ser imparcial em relação a alguma marca, por exemplo.

DINHEIRO – Até que ponto isso é ruim para os pacientes?
ANGELL – Isso é muito ruim para os pacientes. As companhias do segmento gastam milhões de dólares em campanhas publicitárias, mas aplicam bilhões para seduzir os médicos. Pode parecer loucura, mas não é. O jogo de sedução começa na universidade, onde são distribuídas amostras grátis para os futuros médicos, são pagos almoços e distribuídos brindes. Os futuros médicos aprendem absurdos. Podem chegar a acreditar que os melhores medicamentos são os mais novos, recém-lançados.

DINHEIRO – A sra. comenta que as companhias do setor estariam criando ensaios clínicos para fazer com que seus produtos pareçam melhores do que são. Como isso é possível?
ANGELL – No passado, as empresas do setor pagavam por ensaios clínicos para testar medicamentos, mas isso acabou. Agora, elas estão envolvidos diretamente na elaboração desses estudos que determinam a eficiência do medicamento. São elas mesmas que não só elaboram o estudo como analisam e interpretam os resultados. Isso dá aos laboratórios uma imensa capacidade de controlar todo o sistema e, obviamente, eles podem maquiar o medicamento, mostrando no estudo que o produto é melhor do que realmente é. Mais que isso: enquanto eles enaltecem o lado positivo, escondem o lado negativo, como efeitos colaterais. Por conta disso, eu acredito muito que a literatura médica, na descrição dos seus produtos, não é nada confiável.

DINHEIRO – A sra. é favorável à expansão do mercado de medicamentos genéricos?
ANGELL – Eu sou muito favorável à expansão do mercado de genéricos no Brasil e no mundo. Eles são idênticos às mercadorias que possuem marcas de expressão, mas têm uma diferença em relação aos produtos de “imitação”. Os genéricos não estão sendo criados e vendidos com a idéia de que são mercadorias novas. Eles não compram essa mensagem errada de que são lançamentos – e, portanto, não é preciso pagar caro por eles.

DINHEIRO – A sra. é uma crítica ferrenha do mercado de medicina alternativa. Por quê?
ANGELL – Eu acredito que os produtos lançados pela medicina alternativa deveriam ser amplamente testados para que se pudesse verificar a eficácia deles.

Eu não sou contra os medicamentos em si. Quero deixar isso claro. Eu sou contra essa postura que o segmento tem de que não é necessário testar os remédios que as empresas tentam vender.

 

 

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