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Semana de Estudos 2012 & Instituto Packter

Porto Alegre, 24 a 28 de julho  - nível intermediário II

 

 

Dicionário de Termos Gaúchos

(texto de Eduardo Cecconi)

O gaúcho corta os esses das palavras no plural, usa "tu" com verbo na terceira pessoa e incorpora palavras do espanhol ao dia-a-dia. As singularidades têm jeito de erro, mas denunciam apenas os modos variados de falar "gauchês". O linguajar ouvido no Rio Grande do Sul é resultado da influência das culturas regionais e da renovação do vocabulário pelos jovens dos centros urbanos.

Nacionalmente reconhecido pela resistência a imposições externas, o gaúcho assiste à invasão do "você". Com este pronome de tratamento, outros tantos termos importados modificam a maneira de falar.

- Quando se trata de lingüística, é complicado fazer um prognóstico. A identidade gaúcha talvez consiga frear esse processo, mantendo a tendência de nos diferenciarmos para reforçar nossas origens - argumenta o professor Cléo Altenhofen, pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Altenhofen e outros pesquisadores da UFRGS e das universidades federais do Paraná e de Santa Catarina trabalham na elaboração do Atlas Lingüístico Etnográfico da Região Sul. O primeiro resultado foi separar a região em duas zonas de influência: a do Norte, em que São Paulo age sobre o Paraná, e a do Sul, gaúcha. Santa Catarina é considerada zona de transição. O linguajar gaúcho se mostra capaz de avançar sobre os Estados vizinhos.

- A entonação é mais perceptível, mas é difícil determinar o padrão. O estereótipo do "bah, tchê" não se encontra mais com facilidade - diz Altenhofen.



Longe dos centros urbanos, aumenta a resistência a inovações no falar

Em Porto Alegre e nos grandes centros urbanos, os meios de comunicação e o intercâmbio de experiências promovem inovações. Por exemplo, o "tu" característico do gaúcho começa a dar lugar ao "você" na conversa.  - O gaúcho resiste ao "você", mas a forma exigida, com o verbo na terceira pessoa, já entrou - diz Jorge Espiga, professor de espanhol e lingüística da Universidade Católica de Pelotas. Quanto mais distante dos grandes centros, maior é a resistência a novos modos de falar. As gerações mais antigas tendem a manter o jeito tradicional, fenômeno mais comum nas regiões de Fronteira, Missões e Campanha. - Quanto mais isolado, mais característico é o jeito de falar. Nos pontos de globalização há uma tendência a igualar com o restante - analisa o professor de literatura Luís Augusto Fischer, autor do Dicionário de Porto-alegrês, que deve ganhar uma versão atualizada. Prova de que as mudanças seguem em andamento.

 

- A -

Aprochegar, v. Aproximar-se, chegar perto.

- B -

Bagual, 1. Cavalo arisco, selvagem. 2. Fig. Pessoa grosseira, pouco sociável, rude.

Bolear-se, v. Jogar-se ao solo o cavalo com o cavaleiro, com os arreios, ou mesmo desencilhado.

Bolicho, s. Casa de negócio de pequeno sortimento e de pouca importância. Bodega. Taberninha. 

- C -

Campanha, s. Zona de campo, apropriada à criação de gado. Local distanciado da cidade; interior. // Parte baixa do Estado.

Cartear, v. Jogar, dar as cartas no jogo.

Castelhano, s. O natural do Uruguai ou da Argentina. // adj. Relativo ao Uruguai ou à Argentina.

Catre, s. Cama rústica. // Espécie de jangada ou balsa, preparada com madeira destinada ao uso das populações da beira do Uruguai e do Ibicuí, descidas no tempo das enchentes.

Causo, s. Caso, conto, acontecimento, história, narrativa.

Chimarrão, Bebida quente e amarga, típica do gaúcho. Infusão de erva mate (Ilex Paraguayensis) preparada em cuia de porongo e sorvida através da bomba (tubo metálico com um ralo na extremidade inferior).

Chote, Ritmo e dança de origem européia muito comum nos fandangos gaúchos.

Churrasco, Carne assada no calor da brasa.

Colorado, Torcedor do Sport Club Internacional, time atualmente campeão do mundo, título conquistado em novembro em Tóquio.

- D -

De relancina, loc. adv. Repentinamente, de relance, fugazmente, ligeiramente, velozmente, num repente.De valde, expr. Sem uma razão específica. // O mesmo que de balde.

- E -

Eh-cuê, interj. Exprime admiração, espanto. O mesmo que cuê-pucha, cuê, cuê-puna, epucha.

Embretar-se, Fig. Meter-se em apuros.

Entrevero, s. Mistura, desordem, confusão de pessoas, animais ou objetos. // Recontro em que as tropas combatentes, no ardor da luta, se misturam em desordem, brigando individualmente, corpo a corpo, sem mais obedecer a comando, usando predominantemente a arma branca. O entrevero é uma luta de extermínio, onde o sangue corre com abundância e os mortos e feridos são inumeráveis, pois, em geral, cada participante briga com fúria e decisão, preferindo morrer a recuar ou entregar-se.

- F -

Farrapo, s. e adj. Alcunha deprimente que os imperiais davam aos revolucionários de 1835. O apelido aviltante, alusivo à miséria em que se encontravam os farrapos, transformou-se, porém, em vista do civismo e da bravura que sempre demonstraram, em legenda de glória e heroísmo de que se orgulham todos os seus descendentes. // Relativo aos farrapos.

Fazer cosca, Fazer cócegas.

Filosofia Clínica - expressão inicialmente utilizada por filósofos gaúchos para designar o uso da Filosofia acadêmica na atividade em consultórios, hospitais, instituições que lidam com as questões existenciais.

Flexilha, s. Ou flechilha. Grama ou capim muito comum em várias zonas do Estado do Rio Grande do Sul (Stipa neesiana). É de superior qualidade para a criação de gado.

- G -

Galego, s. Alcunha que os farrapos davam aos legalistas. O mesmo que absolutista, camelo, caramuru, restaurador corcunda.

Gauderiar, v. Vagabundear, andar errante, de casa em casa, sem ocupação séria, vivendo às expensas de outrem. Gandular, filar. Vagamundear. Viver sem eira nem beira. Tornar-se gaudério.

Guacho, s. e adj. Animal ou pessoa criado sem mãe ou sem leite materno.

Guaíba, Rio que banha Porto Alegre. Há uma grande discussão a respeito de sua verdadeira classificação: rio, lagoa, estuário, delta, etc.

Guasquear, v. Dar com guasca (tira de couro cru) num animal. Castigar uma pessoa. Guasquear no chão: cair, tombar.

- H -

Haragano, 1. Cavalo arisco, que dificilmente se deixa agarrar. 2. Fig. Pessoa que vive vadiando, sem ocupação.

- I -

Índio, s. Homem do campo. Peão de estância. Indivíduo valente, bravo, disposto, destemido, valoroso.

Invernada, 1. Inverno rigoroso. 2. Grande extensão de campo cercado usado para criar, engordar, cruzar, etc. 

- L -

Lá de fora, Lá do campo.

Lindeiro, s. Ao lado de, vizinho.

- M -

Manotaço, s. Pancada que o animal cavalar ou muar dá com uma das patas dianteiras ou com ambas. // Bofetada, pancada com a mão, dada por pessoa. // Em sentido figurado, desfeita, afronta.

Matungona, adj. Ordinária, comum, velha, feiosa, ridícula.

Milonga, s. Espécie de música crioula platina cantada com acompanhamento de guitarra (violão).

Minuano, s. Vento frio e seco que sopra do sudoeste no inverno. Vem dos Andes, passando pela região onde habitavam os índios minuanos dos quais tomou o nome. // Indígena dos minuanos, tribo que antigamente habitava o sudoeste do Rio Grande do Sul; relativo aos minuanos.

Missioneiro, s. e adj. Indígena das antigas missões jesuíticas. // Habitante da região Missioneira do Estado. // Relativo às missões.

Mundeo, s. O mesmo que mundéu, armadilha para apanhar caça. // Traição.

- N -

Negrinho do Pastoreio, Lenda gaúcha que conta a história dos maus tratos sofridos por um menino escravo que acabou se transformando numa espécie de anjo bom dos pampas. Diz a lenda que acendendo uma vela ao Negrinho, ele nos ajuda a encontrar o que procuramos. 

- O -

Oigalê!, interj. Exprime admiração, espanto, alegria.

Olada, s. Ocasião, oportunidade, sorte, potra, momento propício que deve ser aproveitado para se conseguir algo. Estar de olada significa estar com sorte, sobretudo no jogo.

- P -

Pago, s. Lugar em que se nasceu, o lar, o rincão, a querência; o povoado, o município em que se nasceu ou onde se reside. Geralmente usa-se no plural.

Pala, s. Poncho leve, feito em geral de brim, vicunha ou seda, de feitio quadrilátero, com as extremidades franjadas. Usa-se enfiado em torno do pescoço, como cachecol. (Etim.: Provavelmente vem do castelhano palio, capa, que por sua vez vem do latim pallium).

Pampa, s. Denominação dada às vastas planícies do Rio Grande do Sul e dos países do Prata, cobertas de excelentes pastagens, que servem para criação de gado, principalmente bovino, cavalar e lanígero. Apesar de haver sido usado algumas vezes no feminino, o termo, é considerado do gênero masculino pela maioria dos estudiosos da matéria. // Nome dado aos antigos índios que habitavam o pampa. (É palavra da língua quíchua: pampa, campo aberto, planura, savana).

Pangaré, 1. Cavalo cujo pêlo é de um tom vermelho amarelado. 2. Matungo, cavalo ruim.

Parada, s. Importância em dinheiro pela qual se contrata uma corrida de cavalos ou uma rinha de galos. Valor da aposta. Uma jogada. // Um encontro entre adversários. // Fanfarrice, presunção, pedantismo, jactância, vanglória, gabolice, farroma, bravata, conversa fiada.

Peleia, s. Peleja, pugilato, contenda, briga, rusga, disputa, combate, luta entre forças beligerantes.

Poncho, s. Espécie de capa de pano de lã, de forma retangular, ovalada ou redonda, com uma abertura no centro, por onde se enfia a cabeça. É o agasalho tradicional do gaúcho no campo. // O poncho é utilizado também como arma, pois, com ele, o gaúcho se protege nas brigas de ferro-branco, enrolando-o no braço ou jogando-o ao solo para, com um tirão, desequilibrar o adversário que nele pisar inadvertidamente.

Prenda, s. Jóia, relíquia, presente de valor. // Em sentido figurado, moça gaúcha.

- Q -

Querência, s. Lugar onde alguém nasceu, se criou ou se acostumou a viver, e ao qual procura voltar quando dele afastado. // Lugar onde habitualmente o gado pasta ou onde foi criado. //Pátria, pagos, torrão, rincão, lar (Etim.: É vocábulo castelhano; entretanto, há, em português, querença, com a mesma significação).

- R -

Ramada, s. Cobertura de ramas à frente dos ranchos, à sombra da qual descansam os campeiros nas horas de sol ardente. // Cobertura de tabuinhas, para dar sombra, semelhante à latada.

Rancho, s. Casebre de pau a pique, coberto de santa fé, com um couro como porta, onde moram peões ou gente pobre. Qualquer morada humilde. Palhoça, choupana.

Redomona, s. Feminino de redomão, cavalo novo que está sendo domado.

Relho, Chicote pequeno com cabo de madeira e couro torcido.

Repontar, 1. Começar a surgir, despontar. 2. Tocar o gado de um lugar a outro.

Restinga, Mata de árvores de pequeno porte à margem de rios, arroios ou sangas.

Retouçar, v. Faceirar, namorar, brincar. Retoçar.

Rincão, s. Ponta de campo cercada de rios, matos ou quaisquer acidentes naturais, onde se pode pôr os animais a pastarem em segurança. Lugar mais ou menos resguardado na campanha. Qualquer trecho de campo onde haja arroio, capões ou simples mancha de mato. // É sinônimo de pagos e de querência.

Rodeio, s. Lugar no campo de uma estância onde habitualmante se reúne o gado para contar, apartar, examinar, marcar, assinalar, castrar, vacinar, dar sal, curar bicheiras, etc. É também o conjunto de reses reunidas no rodeio. // Figuradamente, conjunto, grupo.

- S -

Sesmeiro, s. Dono de sesmaria. (É palavra portuguesa em desuso nos outros Estados).

Sinuelo, s. Animal ou ponta de animais mansos ou habituados a serem conduzidos, utilizados para juntar aos xucros, com a finalidade de acalmá-los e levá-los, em sua companhia, para onde se deseje.

Sirigaita, Mulher assanhada, tagarela, escandalosa.

Solito, adj. Isolado, sozinho, sem companhia.

- T -

Tchê, interj. Equivale a tu, aí ou tu simplesmente. Usa-se também como vocativo: "Como vai, tchê?"; para chamar a atenção: "Tchê!, que mulher bonita!". Pode indicar espanto ou zombaria. O mesmo que chê, ché e tiê.

Tirar talo, Tomar a dianteira sobre os adversários numa corrida de cavalos.

Tocar por diante, expr. Expulsar, enxotar, correr. // Conduzir, repontar, levar por diante.

Tranquear, v. Andar o cavalo em marcha natural, no tranco.

Trotear, Andar a trote.

Trova, Desafio em versos improvisados onde cada trovador tem que criar uma resposta a partir do último verso da estrofe do outro.

Truco, s. Jogo de baralho, entre dois ou quatro parceiros, cada um dos quais recebe três cartas. O mesmo que truque.

Tundo, Dou uma surra, bato.