programa do curso Relacionamentos
Afetivos
- por uma Educação Pessoal -
com Lúcio Packter
* em comemoração pelo XX Encontro Nacional de
Filosofia Clínica,
convidamos o filósofo a lecionar neste curso.
9 de junho de 2018
9h30 - 11h00
Tema do dia - As coisas básicas sobre início de relacionamento.
“Eu sou uma chama acesa! E rebrilho e rebrilho toda essa escuridão!”
Este momento era único – e ela teria durante a vida milhares de momentos
únicos. Até suou frio na testa, por tanto lhe ser dado e por ela
avidamente tomado. “A beleza pode levar à espécie de loucura que é a
paixão.” Pensou: “estou casada, tenho três filhos, estou segura.” Ela
tinha um nome a preservar: era Carla de Sousa e Santos. Eram importantes
o “de” e o “e”: marcavam classe e quatrocentos anos de carioca. Vivia
nas manadas de mulheres e homens que, sim, que simplesmente “podiam”.
Podiam o quê? Ora, simplesmente podiam."
A bela e a fera, de Clarice Lispector
16 de junho de 2018
9h30 - 11h00
Tema do dia
- Quem é você para o outro; quem é o outro para você
"Por causa da discussão do dia anterior, nossa sintonia ainda estava um
pouco abalada. Meus esforços estavam voltados a evitar pensamentos
negativos sobre nosso relacionamento. Sempre que surgia alguma
discussão, vinham à cabeça pensamentos como: Somos tão diferentes; Será
que nosso relacionamento vai superar nossas diferenças?; ou Algum dia
vamos deixar de discutir tanto?. Para este último, eu já tinha a
resposta: Não! Em qualquer relacionamento sempre haverá altos, baixos e
discussões. Nossas diferenças não vão desaparecer de um dia para o
outro. De uma coisa eu tinha certeza: valeria a pena ficar juntos."
Trecho de Os Opostos se Distraem, de Jussara Souza
23 de junho de 2018
9h30 - 11h00
Tema do dia -
Depois do início consolidado: esparramar e aprofundar.
Prefácio da
aula com a música de Rachmaninoff e pósfácio com Beethoven.
"Que angústia
estar sozinho na tristeza E na prece! que angústia estar sozinho
Imensamente, na inocência! acesa A noite, em brancas trevas o caminho Da
vida, e a solidão do burburinho Unindo as almas frias à beleza Da neve
vã; oh, tristemente assim O sonho, neve pela natureza!"
A rosa de Hiroshima, Vinicius de Moraes
30 de junho de 2018
9h30 - 11h00
Tema do dia -
Final a um relacionamento.
"É natural sentir decepção e tristeza com o fim do relacionamento.
Encontrar o significado mais profundo do relacionamento, se é que ele
existe, não é o mais importante para você agora. Neste momento, é
bastante chegar a termo com a perda e conseguir encerrar esse capítulo.
Sua carta mostra a indiscutível sinceridade com que você tentou fazer o
relacionamento crescer. Também é muito pungente seu sentimento de
perplexidade por seus esforços não terem sido suficientes. Não é fácil
aprender a aceitar um resultado que contraria o desejo de nosso coração.
Acredito que você ganha muito mais por não ter jogado o “jogo da culpa”.
Ele não teria ajudado o relacionamento. Seja leniente consigo mesmo e
dê-se algum tempo para curar a ferida."
Trecho de Pergunte a Deepak Chopra sobre amor e relacionamentos, de
Deepak Chopra
7 de julho de 2018
9h30 - 11h00
Tema do dia - Intimidade,
privacidades.
"Quando tento
buscar na memória a menina que fui, não consigo me ver chorando. No
colégio? Nunca. Em casa? Só de forma muito reservada e profunda no
silêncio do meu quarto, jamais por fricotes infantis. Mesmo adolescente,
com os hormônios em curto-circuito, tampouco lembro de abrir as
torneiras. Era durona, não chorava nem quando havia sério motivo para
tal – aliás, bastava que algum parente distante tivesse morrido para me
dar uma vontade louca de rir. Tinha vergonha de me emocionar. Depois
veio a idade dos namoros, e aprendi a chorar por dor de cotovelo e
também por autopiedade. Meu choro era tão sentido, vinha de zonas tão
secretas em mim, que mesmo quando o motivo do choro já havia se
dissipado eu continuava chorando pela simples emoção de estar
testemunhando a minha tristeza reprimida que finalmente desaguava – eu
chorava pela comoção que eu mesma me causava."
Trecho de
Simples Assim, Martha Medeiros
14 de julho de 2018
9h30 - 11h00
Tema do dia -
Aprimorando o relacionamento: construir.
"No princípio do amor existe o fim do amor, como no princípio do mundo
existe o fim do mundo. Existem folhagens irisadas pela chuva, varandas
varadas de luz, montanhas de gaze azul amontoadas no horizonte,
crepúsculos de ametista com palmeiras estruturadas para um tempo além de
nosso tempo, pássaros fatídicos na tarde assassinada, ofuscação
deliciosa dos sentidos no lago. No princípio do amor já é amor.
Melancólica e perfeita é a praça com o seu quartel amarelo e o clarim
sanguíneo do meio-dia. No princípio do amor a criatura já se esconde
bloqueada na terra das canções. Navios pegam fogo no mar alto, defronte
da cidade obtusa, precedida dum tempo que não é o nosso tempo. No
princípio do amor, sem nome ainda, o amor busca os lábios da magnólia, a
virgindade infatigável da rosa, onde repousa a criatura em torno da qual
é, foi, será princípio de amor, prenúncio, premissa, promessa pressurosa
de amor. No princípio do amor a mulher abre a janela do parque enevoado,
com seus globos de luz irreais, umidade, doçura, enquanto o homem —
criatura ossuda, estranha — ri como um afogado no fundo de torrentes
profundas, e deixa de rir subitamente, fitando nada."
O homem que odiava ilhas: Crônicas de Paulo Mendes
Campos
4 de agosto de 2018
9h30 - 11h00
Tema do dia -
Pseudos relacionamentos.
"Claro que eu
sabia: “Me cure. Me alimente. Me dê dinheiro.”
— Desculpe. Ele não respondeu. Dei meia-volta e segui para o lugar de onde
havíamos levantado voo, o campo de feno. — Será que você pode pelo menos
me dar um curso a jato sobre como curar as pessoas? Eu nunca lhe pedi
para me ensinar isso, mas é que o meu jeito... ele é tão lento. — O seu
jeito é o jeito como você quer se curar. — Ele se aproximou, e voamos em
formação próxima. — Quer que eu faça isso por você, que o cure num
piscar de olhos na Terra? Assim você não precisa aprender nada. Vai me
permitir fazer isso? Era tão fácil: deixar a cargo dele. Então, depois,
alguém pergunta: “Como você se recuperou daquele acidente? Você está
bem! E de uma hora para a outra!” E eu digo: “Não sei, um Salvador me
curou.” — Bem, não — respondi. — Só me dê algumas dicas, para agilizar
as coisas para mim, para eu fazer do meu jeito."
O fim das ilusões, Richard Bach
11 de agosto de 2018
9h30 - 11h00
Tema do dia -
Fantasmas do passado rondando.
"O velho pensava sempre no mar como sendo la mar, que é como lhe chamam
em espanhol quando verdadeiramente o querem bem. Às vezes aqueles que o
amam lhe dão nomes vulgares, mas sempre como se fosse uma mulher. Alguns
dos pescadores mais novos, aqueles que usam boias como flutuadores para
as suas linhas e têm barcos a motor, comprados quando os fígados dos
tubarões valiam muito dinheiro, ao falarem do mar dizem el mar, que é
masculino. Falam do mar como de um adversário, de um lugar ou mesmo de
um inimigo. Entretanto, o velho pescador pensava sempre no mar no
feminino e como se fosse uma coisa que concedesse ou negasse grandes
favores; mas se o mar praticasse selvagerias ou crueldades era só porque
não podia evitá-lo. “A lua afeta o mar tal como afeta as mulheres”,
refletiu o velho."
O Velho e o Mar, Ernest Hemingway
18 de agosto de 2018
9h30 - 11h00
Tema do dia - Coisas que
acontecem quando se mora com alguém.
"Eu estava no
auge da juventude, a caminho da maturidade: um bom casamento, filhos
saudáveis, muito trabalho — mas numa profissão que me apaixonava.
Levávamos a vida com dignidade e muitos projetos. Então alguém me deu
uma pequena ampulheta, que coloquei em minha escrivaninha. No começo
achei interessante a areia fina que escorria marcando as horas. Um dia
me dei conta de que ela marcava a vida que foge e a morte que aguarda.
Num impulso joguei a ampulheta pela janela. A areia do tempo ficou
espalhada nas pedras, rindo de mim."
O tempo é um rio que corre Lya Luft
25 de agosto de 2018
9h30 - 11h00
Tema do dia -
Como conversar com ela?
"Se um daqueles pombos sobre a mancha ensolarada do pátio levantar voo
agora me deixarei arrastar pela lembrança, senão irei até a cozinha e
lavarei a louça do jantar de ontem. Um deles voa e vou lavar a louça
ainda assim. O que vale é a aposta, não o desfecho. Brincávamos disso
todo o tempo quando éramos crianças. Que o acidental comandasse a vida
era tentador. O que afinal de contas havia determinado nosso encontro?
Estávamos unidas por acaso. Também por acaso havíamos ido parar naquele
bairro e não em qualquer outro. Vizinhas e logo irmãs. A verdade é que
Vicky sustentava essas teorias com mais tenacidade do que eu. Eu não
estava tão certa de que tudo não acontecesse por vontade divina, como
dizia o padre do colégio. Me parecia mais razoável pensar que as coisas
tinham um motivo para ser como eram, mas as especulações dela eram mais
divertidas do que as razões de Deus."
Trecho de Mar Azul, de Paloma Vidal
1 de setembro de 2018
9h30 - 11h00
Tema do dia -
Enganos comuns nas relações afetivas.
"Nos primeiros e solitários dias de minha vida em Chicago, sempre
me esforçava para reproduzir os prazeres de minha vida anterior na
Bósnia. Nostalgicamente, buscava um bom borscht – não esperava um
borscht perfeito. Mas o que encontrei em restaurantes ucranianos ou nos
supermercados, nas prateleiras de comida étnica, não passava de uma rala
sopa de beterraba, e fui forçado a tentar reconstruir o borscht da minha
família a partir das minhas confusas lembranças. Eu fazia uma panela
para mim mesmo e vivia dele por uma ou duas semanas. Mas o que eu fazia
nesta terra de triste abundância nunca era igual à minha lembrança.
Sempre faltava ao menos um ingrediente, sem contar o misterioso. Mais
importante ainda, não existe nada mais patético do que um borscht
solitário. Fazer borscht apenas para mim ajudou-me a compreender a
metafísica das refeições em família – a comida tem que ser preparada no
fogo baixo e constante do amor e ser consumida em um ritual de indelével
união e convivência. O ingrediente crucial do borscht perfeito é uma
família grande e faminta."
Trecho de O Livro das Minhas Vidas, de Aleksander Hemon
8 de setembro de 2018
9h30 - 11h00
Tema do dia -
Por que bisbilhotar o celular alheio?
"As visões da
boa vida são comparadas por Ricoeur a uma nebulosa. As nebulosas são
cheias de estrelas, não é possível contar todas elas, e incontáveis
estrelas brilhando e cintilando atraem e encantam. Entre elas, as
estrelas podem mitigar suficientemente a escuridão para permitir aos
andarilhos traçar um caminho na imensidão – algum tipo de caminho. Mas
que estrela deve orientar os passos de alguém? E em que ponto alguém
deve decidir se selecionar essa estrela para guia entre uma
multiplicidade delas foi uma escolha acertada ou infeliz? Quando se deve
concluir que o caminho escolhido não leva a lugar algum, e que chegou a
hora de abandoná-lo, voltar e fazer outra escolha melhor, espera-se? Não
obstante os desconfortos já provocados por trilhar a rota previamente
selecionada, tal resolução pode ser um passo imprudente: abandonar a
estrela que até então se seguia pode revelar-se um erro ainda maior e
mais lamentável, e você pode descobrir que o caminho alternativo conduz
a dificuldades ainda maiores – você não sabe, nem é provável que saiba
ao certo tudo isso."
A arte da vida, Zygmunt
Bauman
15 de setembro de 2018
9h30 - 11h00
Tema do dia -
Infidelidade
"Aprendi a
escrever lendo, da mesma forma que se aprende a falar ouvindo.
Naturalmente, quase sem querer, numa espécie de método subliminar. Em
meus tempos de criança, era aquela encantação. Lia-se continuamente e
avidamente um mundaréu de histórias (e não estórias) principalmente as
do Tico-Tico. Mas lia-se corrido, isto é, frase após frase, do princípio
ao fim."
Caderno H, Mario Quintana
22 de setembro de 2018
9h30 - 11h00
Tema do dia - Escolhas, Decisões
"O fato é que
tudo o que tenho nos bolsos é cuidadosamente escolhido para que eu
esteja sempre preparado. Tudo está lá para que eu possa estar em
vantagem no momento exato. Na verdade, não é bem assim. Tudo está lá
para que eu não fique em desvantagem no momento exato. Porque que tipo
de vantagem um palito de dente de madeira ou um selo postal podem
realmente proporcionar?
Mas se, por
exemplo, uma garota bonita – sabe de uma coisa, nem bonita, apenas
charmosa, uma garota de aparência comum, mas com um sorriso fascinante
de tirar o fôlego – te pede um selo, ou nem sequer pede, se apenas está
na rua parada ao lado de uma caixa vermelha de correio em uma noite
chuvosa com um envelope sem selo na mão e pergunta se você sabe onde há
um posto de correios aberto àquela hora, e, em seguida, tosse um pouco
porque está com frio, mas também desesperada, uma vez que, no fundo do
seu coração, sabe que não há nenhuma agência de correio aberta na
região, com certeza não naquela hora, e nesse momento, nesse exato
momento, ela não vai dizer “Puta merda, que você tem nos bolsos?”, mas
ficará muito grata pelo selo, talvez nem mesmo grata, ela vai apenas
sorrir aquele seu sorriso fascinante, um sorriso fascinante em troca de
um selo postal – eu estaria pronto a fechar um negócio destes em
qualquer momento da minha vida, mesmo que o preço dos selos suba e o
preço dos sorrisos despenque.
Após o
sorriso, ela vai dizer obrigada e tossir de novo, por causa do frio, mas
também porque está um pouco envergonhada. E vou oferecer-lhe uma
pastilha para tosse. “O que mais você tem nos bolsos?”, ela perguntará,
mas de forma suave, sem o “puta merda” e sem a negatividade, e vou
responder sem hesitar: tudo o que você precisar, meu amor. Tudo o que
você precisar. Então agora vocês já sabem. É isso o que eu tenho nos
bolsos. Uma chance de não estragar tudo. Uma mínima chance. Não grande,
nem mesmo provável."
Trecho de De
Repente, Uma Batina na Porta, de Etgar Keret
29 de setembro de 2018
9h30 - 11h00
Tema do dia
- Ilusões de uma época
"Uma vez me
perdi na minha própria casa. Acho que não foi tão ruim quanto parece.
Tínhamos acabado de aumentar a casa – acrescentado um corredor e um
quarto para o lula, também conhecido como Kevin, meu irmão caçula –,
mas, na verdade, os carpinteiros já haviam ido embora, e a poeira já
baixara havia mais de um mês. Minha mãe nos chamara para jantar e eu
estava descendo as escadas. Quando cheguei ao segundo andar, acabei indo
para o lado errado e me deparei com um quarto coberto por um papel de
parede com nuvens e coelhinhos. Percebi que tinha virado à direita, em
vez da esquerda, então logo em seguida cometi o mesmo erro e fui parar
no closet. Quando cheguei lá embaixo, Jenny e meu pai já estavam lá, e
minha mãe me lançou aquele olhar. Eu sabia que tentar explicar seria
pior, então fiquei quieto e comecei a comer meu macarrão com queijo. Mas
dá para sentir meu problema. Minha “bússola interior”, como tia Maude
costumava chamar, não é muito desenvolvida. Na verdade, acho que ela
nunca foi calibrada. Norte, sul, leste, oeste? Pode esquecer – para mim
já era difícil saber o que era direita e esquerda."
Trecho de EntreMundos, de Neil Gailman
29 de setembro de 2018
9h30 - 11h00
Tema do dia -
Corporeidade e sexualidades.
"Existe alguma maneira de dar sentido às duas coisas? Existe alguma
maneira de usar os produtos da nossa curiosidade e da nossa inteligência
para influenciar, atenuar, reorientar nossos instintos básicos? Ou temos
de admitir que a história é uma colcha de retalhos de eventos sem nada
em comum uns com os outros, e que a natureza humana é uma cesta de
compras com mercadorias díspares, algumas divinas, outras monstruosas,
sem nenhuma conexão entre si?
Ciência, um Monstro: Lições trentinas, Paul K
Feyerabend
6 de outubro de 2018
9h30 - 11h00
Tema do dia
- Continuidade: o que você leva para as próximas relações.
"Gosto da palavra “amantes”. Amantes são aqueles que se amam. Os
amantes, separados pela distância, sentem saudades... Alegram-se com a
memória do rosto da pessoa amada. Diferente das palavras “marido” e
“esposa”. Para se ser “marido” e “esposa” não é preciso amar. Ouvi de um
padre, na sua homilia aos noivos: “O que os une não é o seu amor. É o
contrato”. Padre ortodoxo aquele. Conhecia bem a teologia da Igreja.
Porque, para a Igreja, o que une as pessoas não é o que elas sentem.
É o ato sacramental que o sacerdote executa. É a Igreja que estabelece a
união matrimonial. Sacramentos são atos que um sacerdote executa, em
nome de Deus. Portanto, é Deus que executa. E se é Deus que executa, não
pode ser desfeito. “Aquilo que Deus ajuntou não o separe o homem.” A
rejeição do divórcio por parte da Igreja nada tem a ver com o seu amor
pela família. O que está em jogo é o poder divino da Igreja para unir.
Se ela aceitasse o divórcio, estaria confessando que o sacramento do
matrimônio não é coisa divina. E, com isso, estaria se desqualificando
como legítima representante de Deus. Acho que o certo seria dizer:
“Aquilo que Deus ajuntou o homem não separa. Se separou é porque Deus
não juntou...”.
Alves, Rubem. Trecho de Ostra feliz não faz pérola, de Rubem Alves
13 de outubro de 2018
9h30 - 11h00
Tema do dia - Dois pontos
de Referência
"A
universalidade ou o absoluto da contradição tem duplo sentido. Um é que
a contradição existe no processo de desenvolvimento de todas as coisas,
e o outro é que no processo de desenvolvimento de cada coisa um
movimento de contrários existe do começo até o fim. Engels disse: “O
próprio movimento é uma contradição.”
Sobre a contradição, Mao
Tsé-Tung.
20 de outubro de 2018
9h30 - 11h00
Tema do dia - Crônicas das
Afetividades
"O que seu cônjuge lhe pede com mais frequência? Essa normalmente é uma
indicação da linguagem do amor da pessoa. Você pode ter interpretado
esses pedidos como uma chateação, mas, na verdade, seu cônjuge está lhe
dizendo o que o faz sentir-se amado. Se, por exemplo, seu parceiro lhe
pede repetidamente para dar uma caminhada após o jantar, fazer um
piquenique, desligar o televisor e conversar ou passar o fim de semana
juntos em algum lugar, fica claro que esses pedidos refletem o desejo de
ter um tempo de qualidade. Uma esposa me disse: “Sinto-me negligenciada,
não me sinto amada, pois meu marido raramente passa um tempo comigo. Ele
me dá ótimos presentes de aniversário e não sabe por que não fico feliz
com eles. Presentes significam pouca coisa quando você não se sente
amada”. O marido dela era sincero e estava tentando demonstrar seu amor,
mas não estava falando a linguagem do amor dela."
Trecho de Linguagens do Amor, de Gary Chapan
27 de outubro de 2018
9h30 - 11h00
Tema do dia - Amor, duração,
conexões
"Quando o homem que ia casar comigo chegou a primeira vez na minha casa,
eu estava saindo do banheiro, devastada de angelismo e carência. Mesmo
assim, ele me olhou com olhos admirados e segurou minha mão mais que um
tempo normal a pessoas acabando de se conhecer. Nunca mencionou o fato.
Até hoje me ama com amor de vagarezas, súbitos chegares. Quando eu sei
que ele vem, eu fecho a porta para a grata surpresa. Vou abri-la como o
fazem as noivas e as amantes. Seu nome é: Salvador do meu corpo."
Trecho de Reunião de poesia: 150 poemas selecionados, de Adélia Prado.
1 de novembro de 2018
9h30 - 11h00
Tema do dia - Relacionamentos a
Distância
"É de fato uma opinião estranhamente predominante entre os homens que
casas, montanhas, rios e, numa palavra, todos os objetos sensíveis têm
uma existência natural ou real diferente da de ser percebidos pelo
entendimento. Contudo, por maior que sejam a confiança e a aquiescência
que esse princípio possa ter recebido no mundo, quem decidir em seu
íntimo colocá-lo em dúvida pode, se não me engano, perceber que ele
envolve uma contradição manifesta, pois, o que são os objetos
anteriormente mencionados senão o que percebemos pelos sentidos? E o que
percebemos além das nossas ideias ou sensações? E não é claramente
contraditório |repugnant| que alguma destas, ou alguma combinação
destas, possa existir impercebida?"
Trecho do Tratado sobre os princípios do conhecimento humano, de George
Berkeley
10 de novembro de 2018
9h30 - 11h00
Tema do dia - Elementos de
compreensão da vida.
"– Não há nenhum guarda-roupa neste quarto, e nunca houve – disse eu,
voltando à minha cadeira e levantando o cortinado para poder vê-la.
– Você não está vendo aquele rosto? – indagou ela, olhando fixamente
para o espelho. Expliquei como pude, mas fui incapaz de fazê-la
compreender que aquele era o seu próprio rosto; então me levantei e
cobri o espelho com um xale.
– O rosto ainda está atrás do xale! – continuou ela, inquieta.
– E agora se mexeu. Quem é, Nelly? Espero que não apareça depois que
você for embora! Oh! Nelly, o quarto está mal-assombrado! Estou com medo
de ficar sozinha!
Tomei sua mão e pedi-lhe que se controlasse. Seu corpo fora sacudido por
uma sucessão de tremores, e ela continuava esticando-se para olhar o
espelho.
– Não há ninguém ali! – insisti. – É a senhora mesma, Mrs. Linton:
já sabe disso.
– Eu mesma! – disse ela, a voz sufocada."
Trecho de O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Bronte
24 de novembro de 2018
9h30 - 11h00
Tema do dia - Minha opinião
sobre mim
"Agenda pode ser tormento e prisão. Mas pode ser liberdade, se a gente
inventar brechas: em plena tarde da semana, caminhar na calçada; sentar
ao sol na varanda do apartamento; deitar na grama do parque ou jardim,
por menor que ele seja, e como criança olhar as nuvens, interpretando
suas formas: camelo, coelho, árvore ou anjo. Ou: quinze minutos para se
recostar para trás na cadeira (pode ser do escritório mesmo) e espiar o
céu fora da janela; ir até a sala, esticar-se no sofá com as pernas
sobre o braço do próprio, e ouvir música, ver televisão, ler, ler,
ler... ou simplesmente não fazer nada. O ócio é uma possibilidade
infinita a ser explorada. Não falo da inércia, do desânimo, do vazio
melancólico. Jamais falarei de ficar de robe velho e pantufas (vi numa
vitrine algumas com cara de cachorro e até orelhas!) pela casa até o
meio da tarde. Falo de viver. “Parar, olhar, escutar”, dizia um aviso
nos trilhos do trem quando havia trem entre minha cidade e Porto Alegre.
A gente passava de carro sobre o trilho, e eu imaginava o horror de
alguém infringir isso e ser explodido pelo monstro de ferro e fumaça."
Trecho de Pensar é transgredir, de Lya Luft
1 de dezembro de 2018
9h30 - 11h00
Tema do dia - Perda e Reparação
"Segundo Arendt, a sociedade moderna, enquanto sociedade do trabalho,
aniquila toda possibilidade de agir, degradando o homem a um animal
laborans − um animal trabalhador. O agir ocasiona ativamente novos
processos. O homem moderno, ao contrário, estaria passivamente exposto
ao processo anônimo da vida. Também o pensamento degeneraria em cálculo
como função cerebral. Todas as formas de vita activa, tanto o produzir
quanto o agir, decaem ao patamar do trabalho. Assim, Arendt vê a
Modernidade, que começou inicialmente com uma ativação heroica inaudita
de todas as capacidades humanas, findar numa passividade mortal."
Trecho de Sociedade do cansaço, de Byung-Chul Han.
15 de dezembro de 2018
9h30 - 11h00
Tema do dia - Considerações
iniciais sobre famílias
"O que deixou especialmente alarmados os sábios estudiosos da comissão
foi o “excesso de democracia” durante o conturbado período, a década de
1960, quando partes da população normalmente passivas e apáticas
adentraram a arena política para expor seus anseios e interesses:
minorias, mulheres, jovens, velhos, velhos, classes trabalhadoras... Em
suma, a população, por vezes chamada de “os interesses especiais”. Esses
grupos devem ser distintos daqueles que Adam Smith intitulou de “mestres
da humanidade”, que eram “de longe os principais arquitetos” da política
de governo e iam no encalço de sua “vil máxima”: “Tudo para nós e nada
para os outros”.[8] O papel dos mestres na arena política não é
deplorado, tampouco discutido, no volume publicado pela Trilateral,
presumivelmente porque os mestres representam “o interesse nacional”,
como os que aplaudiam a si mesmos por conduzir o país à guerra depois
que “a exaustiva deliberação dos mais ponderados membros da comunidade”
havia chegado a seu “veredito moral”.
Chomsky, Noam. Trecho de Quem Manda no Mundo?, de Noam Chomsky
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