programa do curso Relacionamentos
Afetivos
- por uma Educação Pessoal -
com Lúcio Packter
19 de janeiro de 2019
9h30 - 11h00
Tema do dia -
Examinando o
sistema de câmbios existenciais entre pessoas.
"A questão é que, na sociedade, cada um deve responder à pergunta sobre
o que é — diferente da pergunta sobre quem é —, qual seu papel e sua
função, e a resposta, evidentemente, nunca pode ser: Sou único, não
devido à arrogância aí implícita, mas porque a resposta seria sem
sentido."
Homens em tempos sombrios, de Hannah Arendt
26 de janeiro de 2019
9h30 - 11h00
Tema do dia
- A quem eu pertenço (do que eu faço parte)?
"O nome dela me vinha aos lábios vez por outra em estranhas orações e
loas que nem eu mesmo compreendia. Meus olhos viviam cheios de lágrimas
(eu não sabia dizer o porquê) e de vez em quando uma inundação que me
vinha do coração parecia se derramar no meu peito. Eu pensava pouco no
futuro. Não sabia se um dia ia ou não falar com ela ou, se falasse, como
ia poder lhe dizer da minha confusa adoração. Mas o meu corpo era como
uma harpa e as palavras e os gestos dela eram como dedos que me corriam
por sobre as cordas."
Arábias, de James Joyce
2 de fevereiro de 2019
9h30 - 11h00
Tema do dia - Paradoxos
alguns
"A morte (ou
sua alusão) torna preciosos e patéticos os homens. Estes comovem por sua
condição de fantasmas; cada ato que executam pode ser o último; não há
rosto que não esteja por dissolver-se como o rosto de um sonho. Tudo,
entre os mortais, tem o valor do irrecuperável e do inditoso. Entre os
Imortais, ao contrário, cada ato (e cada pensamento) é o eco de outros
que no passado o antecederam, sem princípio visível, ou o fiel presságio
de outros que no futuro o repetirão até a vertigem. Não há coisa que não
esteja como que perdida entre infatigáveis espelhos. Nada pode ocorrer
uma só vez, nada é preciosamente precário."
O Imortal, de Jorge Luis Borges
16 de fevereiro de 2019
9h30 - 11h00
As coisas que
produzem afetividades: móveis, máquinas, situações - parte I
16 de fevereiro de 2019
9h30 - 11h00
As coisas que
produzem afetividades: móveis, máquinas, situações - parte II
"Ela era mais
alta do que parecera quando eu a vi da janela, alta e esbelta, com
ombros largos e quadris estreitos. Meu tipo, em outras palavras. O
chapéu que ela usava tinha um véu, um delicioso visor de seda preta de
poá, que chegava à ponta do seu nariz — e que bela ponta era, de um
nariz muito bonito, aristocrático, mas não estreito demais ou comprido
demais, e certamente em nada semelhante à napa tamanho jumbo de
Cleópatra. Ela usava luvas até o cotovelo, de cor creme para combinar
com o casaco, e feitas da pele de alguma rara criatura que passou sua
breve vida saltando delicadamente pelos penhascos alpinos. Tinha um
bonito sorriso, amável, até certo ponto, e um pouco enviesado, irônico,
mas de uma forma atraente. Seus cabelos eram louros e seus olhos eram
negros, negros e profundos como um lago de montanha, as pálpebras
primorosamente afiladas nos cantos externos. Uma loura de olhos negros —
essa não é uma combinação comum. Tentei não olhar para suas pernas.
Obviamente, o deus das tardes de terça-feira havia decidido que eu
merecia um pouco de ânimo."
Trecho de A
Loura de Olhos Negros, de John Banville
23 de fevereiro de 2019
9h30 - 11h00
Tema do dia - Inventando
relacionamentos para descobrir relacionamentos.
"Quando Vicky e eu inventávamos histórias as cidades eram obscuras. No
tempo livre até que viessem nos buscar depois do fim das aulas,
inventávamos histórias que escrevíamos e ensaiávamos. Tínhamos já um
pequeno repertório que recriávamos com algumas mudanças: a menina era
abandonada pelos pais e ia morar com uma tia num subúrbio distante; eles
morriam e ela perambulava pela cidade à procura de um lugar para ficar;
ela não sabia onde estava e pedia ajuda a um homem que a conduzia por
ruas temíveis. Fazíamos isso sentindo que era algo proibido. Lembro de
Vicky chorando, se debatendo, pedindo clemência. Muito cedo nossas
fantasias já percorriam caminhos sombrios."
Trecho de Mar Azul, de Paloma Vital
9 de março de 2019
9h30 - 11h00
Tema do dia -
Faces e Caras
"Acredito mesmo que minha angústia posterior mais se acentuou com essa
impossibilidade de recompor sua imagem. Eu assim apenas possuía suas
palavras, a lembrança de sua alma, tudo o que não era humano em Daniel.
E nas noites de insônia, sem poder reconstituí-lo mentalmente, já
exausta pelas tentativas inúteis, eu o enxergava qual uma sombra,
enorme, de contornos móveis, esmagadora e ao mesmo tempo distante como
uma ameaça. Como um pintor que para prender a ventania na sua tela
inclina a copa das árvores, faz esvoaçar cabeleiras e saias, eu só
conseguia relembrá-lo transportando-me a mim mesma, à daquele tempo.
Martirizava-me com acusações, desprezava-me e, magoada, partida,
fixava-o em mim vivamente."
Trecho de A bela e a fera, de Clarice Lispector.
16 de março de 2019
9h30 - 11h00
Tema do dia - Amizades
imaginárias
"“Posso
aceitar que se sentiu negligenciado quando os gêmeos nasceram, e que
você estava sexualmente frustrado quando encontrou essa mulher. Posso
até entender como seu relacionamento com ela simplesmente aconteceu, e
que você foi na onda. Não é o affair em si que é o problema maior para
mim. O que não posso esquecer é como você me contou. Penso nisso o tempo
todo. Você viu como eu fiquei devastada. Eu estava literalmente na
sarjeta. E quando eu estava na pior, o que você fez? Você me culpou pelo
affair. Você relacionou todas as minhas más qualidades, e chegou ao
ponto de discutir as possibilidades que sua vida iria tomar sem mim. Foi
como se eu não estivesse ali. Você não tomou absolutamente conhecimento
de mim. É isso que não me sai da cabeça. Se você uma vez me amou, como
pôde fazer isso?”
Trecho de Abrace-Me Apertado, de Sue Johnson
23 de março de 2019
9h30 - 11h00
Tema do dia - Ajustes em afetividades
"Se a identidade que dizemos ser não nos captura e marca imediatamente
um excesso e uma opacidade que estão fora das categorias da identidade,
qualquer esforço de “fazer um relato de si mesmo” terá de fracassar para
que chegue perto de ser verdade. Quando pedimos para conhecer o outro,
ou pedimos para que o outro diga, final ou definitivamente, quem é, é
importante não esperar nunca uma resposta satisfatória.
Quando não buscamos a satisfação e deixamos que a pergunta permaneça
aberta e perdure, deixamos o outro viver, pois a vida pode ser entendida
exatamente como aquilo que excede qualquer relato que dela possamos dar.
Se deixar o outro viver faz parte da definição ética do reconhecimento,
tal definição será baseada mais na apreensão dos limites epistêmicos do
que no conhecimento. Em certo sentido, a postura ética consiste, como
sugere Cavarero, em fazer a pergunta “Quem és?” e continuar fazendo-a
sem esperar uma resposta completa ou final. O outro a quem coloco a
questão não será capturado por nenhuma resposta que possa satisfazê-la."
Trecho de Relatar a si mesmo, de Judith Butler
30 de março de 2019
9h30 - 11h00
Tema do dia
- Amigos Imaginários
"Entre amor e individualidade, opto pela segunda. Faço isso ciente de
que ela implica a morte do amor romântico, a meus olhos o grande vilão
da história. O final é feliz porque determina a supressão de uma gama
enorme de sofrimentos inúteis e dilacerantes. Libertos do anseio de
fusão – que entendo como algo que aponta para o passado, e não para a
frente –, indivíduos podem seguir seu caminho na direção da autonomia e
da liberdade."
Flavio Gikovate
6 de abril de 2019
9h30 - 11h00
Tema do dia -
Pais e filhos
"O que se pode
dizer sobre a face filosófica dos esforços em ética social vale
igualmente para os movimentos de aspiração social em conformidade com a
justiça, próprios à era moderna. Não fosse o lema da liberdade
individual inscrito em suas insígnias, dificilmente existiriam quaisquer
dos agrupamentos sociais que, após a Revolução Francesa, se
engalfinharam em embates visando o reconhecimento social."
Trecho de O direito da liberdade, de Axel Honneth.
13 de abril de 2019
9h30 - 11h00
Tema do dia - O que aprendi com você.
"Hoje em dia,
a todo e qualquer indivíduo, membro das sociedades desenvolvidas do
Ocidente, as instituições de liberdade jurídica e moral por princípio
asseguram o direito de rejeitar obrigações sociais e laços contraídos,
bastando que estes se mostrem incompatíveis com seus interesses próprios
e legítimos ou com suas convicções morais. Esse direito é protegido pelo
Estado ou é intersubjetivamente garantido. Tendo em vista as três ideias
de liberdade produzidas na modernidade mais influentes,influentes,
também podemos dizer que as duas primeiras — a liberdade negativa e a
reflexiva — chegaram a ser realidade e forma social nesses dois sistemas
de ação: a instituição da liberdade jurídica deve dar aos indivíduos a
oportunidade, controlada pelo Estado de direito, de suspender decisões
éticas por determinado período, para que se possa realizar uma
apreciação do próprio querer; a instituição da liberdade moral concede
aos indivíduos a possibilidade de rechaçar determinadas imposições de
ação alegando motivos juridicamente justificáveis."
Trecho de O
direito da liberdade, de Axel Honneth.
20 de abril de 2019
9h30 - 11h00
Tema do dia - Budismo e Filosofia
"O amor começa
quando colocamos uma metáfora poética no rosto da pessoa amada. A paixão
é uma experiência estética. Está ligada à contemplação da beleza. A
pessoa pela qual se está apaixonado é bela. Não é que ela seja bela – é
o olhar apaixonado que a torna assim. Porque não vemos o que vemos,
vemos o que somos. Uma mulher é bela quando nos vemos belos ao seu
olhar. Quem, ao olhar para uma mulher, pensa em sexo não é um
apaixonado. O apaixonado sorri ao contemplar a amada dormindo, sem
tocá-la. O corpo de lado, o rosto sobre o travesseiro, os olhos
fechados, o suave ressonar, a camisola suspensa deixando ver a calcinha
– é uma imagem de paz, de tranquilidade. E um momento de ternura. Há um
desejo de acariciá-la, mas a mão se contém; nenhum movimento dele deverá
interromper a beleza da cena. Nela, os impulsos sexuais estão
proibidos."
Trecho de Cantos do Pássaro Encantado, de Rubem Alves
4 de maio de 2019
9h30 - 11h00
Tema do dia - Face e Emoções
"Desde menino
as borboletas me encantam. E acho que elas gostam de mim. Certa vez, na
casa do Brandão, lá em Pocinhos do Rio Verde, uma borboleta assentou-se
no meu rosto e lá ficou, imóvel e tranquila. Não me mexi, com medo de
assustá-la. Ela ficou tanto tempo em meu rosto que deu tempo de o
Brandão ir buscar sua câmera e tirar uma foto. Penso que borboletas,
seres alados, diáfanos e coloridos, devem ser emissários dos deuses,
anjos que anunciam coisas do amor. Imaginei então que aquela borboleta
era um anjo disfarçado que os deuses me enviavam com uma promessa de
felicidade."
Trecho de Cantos do Pássaro Encantado, de Rubem Alves.
11 de maio de 2019
9h30 - 11h00
Tema do dia -
Quem sou eu conosco.
"Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te
olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte
de mal-entendidos. Mas, a cada dia, te sentarás mais perto... Se tu
vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser
feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às
quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da
felicidade!"
Trecho de O Pequeno Príncipe, de Saint Exupéry
18 de maio de 2019
9h30 - 11h00
Tema do dia
- Comunicação não violenta
"Emília estava que nem doida. Viu por ali inúmeras estrelinhas em
formação e começou a brincar com elas como se fossem amigas de infância
e a contar-lhes histórias lá do sítio, proezas de Rabicó, façanhas do
extinto Visconde de Sabugosa e do novo Doutor Livingstone. As
estrelinhas divertiam-se com as novidades, mas confessavam não terem a
menor noção da Terra.
— Parece incrível a ignorância destas bobinhas! — exclamou Emília quando
suas amigas estrelas começaram a piscar para dormir.
— Não sabem nada de nada. Falei do nosso grande planeta Terra, falei da
Lua, falei de Marte — e todas arregalaram os olhos e abriram a boca. Era
a primeira vez que estavam ouvindo tais palavras..."
Trecho de Viagem ao céu, de Monteiro Lobato.
25 de maio de 2019
9h30 - 11h00
Tema do dia - Nossas vidas - parte I
"Na verdade, a
vida moderna parece poder definir-se pelo seu oposto. Em quase todos os
momentos das nossas vidas, somos confrontados com um fluxo persistente
de escolhas, e a maioria de nós poderia admitir dar consigo a hesitar
umas quantas vezes. Longe de serem certas e determinadas, as nossas
vidas podem, no limite, afigurar-se perpassadas de incertezas e
indecisões, culminando, por fim, em escolhas realizadas sem qualquer
fundamento."
Trecho de Um Mundo Iluminado, de Hubert Dreyfus.
8 de junho de 2019
9h30 - 11h00
Tema do dia - Eu, por nós dois.
"CERTO DIA, perguntaram a Bertrand Russell, ateu convicto, o que ele
faria se, depois de morrer, acabasse dando de cara com Deus. Russell
supostamente teria respondido: “Eu lhe perguntaria: Deus Todo-Poderoso,
por que destes tão poucos sinais de vossa existência?”.1 Certamente o
mundo consternador em que vivemos não parece — pelo menos, não na
superfície — um mundo no qual uma benevolência onipotente esteja
atuando. É difícil entender como uma ordem mundial compassiva pode
incluir tanta gente atormentada pela miséria extrema, pela fome
persistente e por vidas miseráveis e sem esperança, e por que a cada ano
milhões de crianças inocentes têm de morrer por falta de alimento,
assistência médica ou social."
Trecho de Desenvolvimento como liberdade, de Amartya Sen.
29 de junho de 2019
9h30 - 11h00
Tema do dia - Afetividades
"Anotei a expressão “limpar as palavras”. Gostei da frase e da intenção.
Imediatamente pensei: assim como aqui e ali a gente encontra escrito
“Consertam-se geladeiras”, pensei numa oficina que teria escrito na
entrada “Limpam-se palavras”. Assim como a gente manda uma roupa para a
tinturaria, é preciso mandar limpar as palavras. Como se faz uma faxina
na casa, pode-se faxinar o texto. Há até especialistas nisto: o revisor,
o copidesque, o redator. Eles pegam o texto alheio e começam a cortar
aqui e ali as gorduras, os excessos, as impurezas gramaticais. Também os
professores, os linguistas, os filólogos podem entrar nessa categoria, a
exemplo dos dicionaristas."
Trecho de Entre leitor e autor, de Affonso Romano Sant'Anna.
6 de julho de 2019
9h30 - 11h00
Tema do dia - Afetividades II
"Quanto aos sentimentos: são puros todos os sentimentos que o senhor
acumula e eleva; impuro é o sentimento que abrange apenas um lado de seu
ser e assim o desfigura. Tudo o que o senhor pode pensar a respeito de
sua infância é bom. Tudo o que faz do senhor mais do que foi até agora
em suas melhores horas é correto. Toda a intensificação é boa, caso
esteja em todo o seu sangue, caso não seja embriaguez, nem obscuridade,
mas alegria da qual se enxerga o fundo. Entende o que quero dizer? Sua
tendência para a dúvida pode se tornar uma boa qualidade se o senhor a
educar."
Trecho de Cartas a um Jovem Poeta, de Rainer Maria Rilke.
13 de julho de 2019
9h30 - 11h00
Tema do dia - Afetividades III
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