Pedro, o faroleiro, subiu os degraus até o cimo do farol.
Cuidadosamente abriu as cortinas que resguardam os instrumentos
óticos e verificou a robusta lâmpada incandescente. Observou as
delicadas lentes de Fresnel, parte da fiação, o motor e as delicadas
engrenagens; a manivela que regula o ângulo e o movimento giratório.
Do alto da torre Pedro avistou o encordoamento de flores pelos
rochedos, a praia, o mar mais adiante, e então o horizonte
longínquo.
Pedro constatou deslocamentos nos bancos de areia para perto dos
recifes. Remaria em seu bote até as boias luminosas, ajustaria os
sinais náuticos e conferiria os sedimentos de sustentação junto às
pedras e cascalhos durante a tarde.
Pedro habituara-se a perscrutar o mar, os caminhos dos nevoeiros, as
rotas das embarcações, o sentido dos ventos, a luminosidade do céu
de estrelas, que considerava infinitos quando jovem.
O tempo então passou; passou, passou.
Muitos meses e anos depois, Pedro um dia notou que o mar encolheu.
Semanas depois as estrelas estavam mais próximas, ao alcance das
lentes de cristais do farol. Um mês passou e Pedro teve a impressão
de que os barcos eram sempre os mesmos, nos lugares de sempre, tudo
ordenadamente preciso.
Com o tempo, Pedro acionava os motores a diesel do farol e os
desligava, mas não sentia estar fazendo isso. Olhava os barcos, as
estrelas, o mar e cada vez menos via.
O tempo seguiu girando seus ponteiros. Muitos anos.
Muitos anos então, e seu amigo Paulo, homem velho do mar, veio um
dia fazer uma visita a Pedro. Deixou o barco na marina perto do
farol. Foi ter com o amigo e conversou sobre airosos e coloridos
cardumes à leste dos penedos, contou da lua que iluminou as fragas
do oeste encontrando à metade do caminho a luz do farol. Paulo falou
da beleza da maré no outono e das flores na aldeia da ilha. Tomaram
rum e assaram umas batatas na brasa. Ouviram música. Paulo olhou
para o céu, agradeceu, convidou Pedro a caminhar pelas águas na
proximidade das areias. Pedro, que esquecera como se anda sobre as
águas, algo muito singelo para faroleiros antigos, chorou. Chorou
porque se recordou como se faz andar sobre as águas. E com isso ele
viu subitamente que era noite, que o farol iluminava a enseada e
passava sereno sobre as ondas, notou o perfume das estrelas, a
canção das brisas. Tomou os remos nas mãos, subiu no madeiramento de
seu bote, iniciou movimentos lentos e a pequena embarcação com os
amigos dentro passou a navegar, a caminhar, sobre as águas.
Quando por fim Paulo retornou para a aldeia na ilha, Pedro
permaneceu por horas acompanhando o perfume das estrelas e as
canções das brisas, assim como a poesia da vida. Dançou nas areias e
nadou nas águas mornas do mar. Renascido, amou a vida comovido.
1 de outubro 2021,
sexta-feira
17h30 - 19h30
áudio editado do primeiro dia de trabalhos.
2 de outubro de 2021,
sábado
16h30 - 19h10
livros que serão trabalhados
Um dos vídeos a ser trabalhado com os livros acima:
áudio editado do segundo dia de trabalhos.
3 de outubro de 2021,
domingo
16h30 - 20h10
livros que serão trabalhados
Um dos vídeos a ser trabalhado com os livros acima:
áudio editado do terceiro dia de trabalhos.
Retorno à
página inicial
Retorno à
inscrição
|