Conversações complexas com filósofos clínicos

institutopackter.com.br

 

Estimado estudioso de Filosofia Clínica,

Eventualmente, durante o ano de 2025, realizaremos um novo formato de estudos. Trata-se de uma conversação sobre elementos avançados e complexos em torno de alguns temas da Filosofia Clínica. Esses eventos não serão abertos ao público em geral, sendo destinados especificamente a pesquisadores da Filosofia Clínica.

O formato é simples: inicialmente, ilustrarei, em dez minutos, os elementos básicos de um assunto (conceitos, funcionamento na EP e posição historiográfica). Em seguida, abordarei aprofundamentos sistemáticos.

Ao final de cada segmento, solicitarei aos participantes que colaborem, trazendo suas experiências, ilustrações, exemplos e questões.

Convido você a participar deste cuidadoso estudo sobre elementos avançados em Filosofia Clínica.

Não utilizaremos leituras de livros, nem faremos uso de filmes, quadros ou fotografias. Tudo será elaborado por meio de conversações.

Evaldo Kuiava, especialista em Filosofia Clínica, em breve publicará uma obra trazendo reflexões filosóficas, sendo algumas delas filosófico clínicas. Como ilustração do estudo Termos Agendados no Intelecto, aqui segue um texto inédito da obra do filósofo.

Um abraço,
Lúcio

 

As vozes do apagador

Evaldo Kuiava

            Nas profundezas do silêncio, em que as palavras desfeitas repousam, as vozes do apagador erguem-se como ecos de uma memória apagada, um murmúrio que transforma ausência em significado. Cada traço obliterado carrega consigo a essência de algo que foi, um instante de expressão agora velado pelo véu da impermanência. É um artefato paradoxal: apaga, mas jamais anula. No espaço vazio que deixa, novas histórias aguardam sua gênese, novas ideias encontram um campo fértil para florescer.

O apagador, instrumento do esquecimento, é também cúmplice da renovação. Suas marcas representam o prelúdio de um recomeço, não o fim. Na superfície apagada, o potencial é infinito, e cada gesto que elimina contém a promessa de uma criação que ainda não se revelou. Ele recorda que a transitoriedade é a essência do tempo, e que há poder em deixar ir, em permitir que o ciclo cumpra-se.

Nas suas vozes, ouve-se o eco do desapego. O apagador ensina que as palavras, mesmo dissolvidas, nunca se perdem completamente. Permanecem como vestígios na memória, como fragmentos de um significado que molda a essência do ser. Convida à reflexão, ao ato de encarar o vazio com coragem e reconhecer que é ali, na ausência, que se encontra o espaço genuíno para a criação.

A cada linha apagada, insinua-se uma pergunta: o que é mais verdadeiro, o que foi escrito ou o que ainda permanece por ser dito? O apagador, com sua dança suave, desafia a contemplar a essência efêmera das tramas escritas. Ele é um testemunho da vulnerabilidade e, ao mesmo tempo, da capacidade de recomeçar, de redesenhar incessantemente sobre o quadro sempre inacabado da existência.

No silêncio que segue o gesto de apagar, percebe-se uma música sutil, uma melodia formada por ideias que já se foram e por aquelas que ainda não nasceram. Cada apagador carrega a sabedoria do efêmero e a serenidade da impermanência. Ensina que o vazio representa a plenitude de um espaço à espera de sua próxima história.

Refletindo sobre o apagador, surgem questões mais profundas sobre a natureza da memória e do esquecimento. Esquecer revela-se, em certa medida, como um gesto de sobrevivência, uma forma de aliviar a mente do peso de suas próprias marcas. O ato de apagar, contudo, também envolve uma escolha: o que preservar e o que deixar para trás? O apagador, como símbolo, confronta os limites do que é registrado e a efemeridade do que permanece fora desse registro. Representa a tensão entre o que se deseja recordar e o que precisa ser liberado para que seja possível seguir em frente.

Em última análise, o apagador ensina que o vazio pode ser acolhido como parte essencial do fluxo da existência. É no vazio que o potencial encontra a liberdade e o espaço em que a vida  redefine-se continuamente. Aceitar o apagamento como parte do ciclo natural da vida é reconhecer que o ser é menos uma história fixa e mais um texto dinâmico, constantemente escrito, apagado e reescrito, em uma eterna dança entre a presença e a ausência.

 

 

 

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