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Arquivo com os Exercícios de Filosofia Clínica contendo as respostas comentadas:

 

Leia parte do que pensa a jornalista norte americana Marcia Angell, autora da obra “A verdade sobre os laboratórios farmacêuticos – como somos enganados e o que podemos fazer a respeito”, que acaba de ser lançada no Brasil pela editora Record. Reproduzimos trecho da entrevista à Editora Três.

 

Leia a matéria e trabalhe com os colegas em seu centro de formação três questões:

1. Existe uma indústria de remédios interessada em produzir uma indústria da saúde e da doença?

2. Remédios são de fato remédios ou remédios são fontes de "doenças" existenciais?

3. Filósofos deveriam discutir a prescrição de medicamentos?

 

 

Marcia Angell - Os laboratórios farmacêuticos querem que acreditemos que eles têm de cobrar altos preços pelos medicamentos por conta dos investimentos com pesquisa e desenvolvimento de novas fórmulas. Mas isso não é verdade. Na prática, eles gastam mais de duas vezes em marketing do que gastam em pesquisa e desenvolvimento e têm embolsado, em termos de lucro, mais dinheiro do que o valor gasto nessas duas áreas. Então, é correto afirmar que os altos preços cobrados por eles cobrem os imensos gastos em marketing e mantêm os lucros absurdos. A verdade está na nossa cara. Qualquer um pode ir aos websites das companhias e ver o relatório anual para descobrir o quanto eles têm dito que gastam em pesquisa e desenvolvimento e o quanto gastam em marketing e administração.

...
As companhias frequentemente vendem doenças que podem ser tratadas pelos remédios que estão lançando, em vez do contrário. Elas apresentam medicamentos para tratar, por exemplo, o que as empresas chamam de “desordem de ansiedade social”, que nada mais é que a timidez. Há casos em que os laboratórios ampliam a definição dos fatores de risco de uma doença. Todo mundo sabe que comer muitos produtos gordurosos pode ser perigoso, eleva o colesterol e, em alguns casos, requer tratamento com drogas. A questão aí é que os “especialistas”, com ligações financeiras com a indústria, ficam baixando o nível considerado normal e todo mundo pode entrar no nível de risco, entende? Então, nesse cenário, muita gente toma remédio para baixar o colesterol sem necessidade.

...

As companhias do setor têm despejado os medicamentos de imitação no mercado porque eles querem aumentar os ganhos imediatos, fazendo lucro certo e rápido por meio da fabricação das ditas “novas” versões, que foram, na realidade, criadas a partir de velhos medicamentos. Muitos remédios de imitação têm boas perspectivas de êxito, o que acaba levando esse mercado a um crescimento enorme, impulsionado facilmente pela ação publicitária. Existe hoje toda uma família de produtos de imitação. Por exemplo, existem seis remédios muito similares para o controle do colesterol. Um deles, o Lipitor, da Pfizer, está entre os produtos “top” do mercado, mas ele é realmente um produto de imitação. Eu acho que o consumidor está cansado dessa situação, de pagar preços exorbitantes por mercadorias por conta de gastos astronômicos das empresas em suas marcas e também na área administrativa. O FDA (U.S. Food and Drug Administration, órgão de controle desse mercado nos EUA) informa que próximo a 80% do que foi lançado pelas empresas nos últimos sete anos não eram mercadorias muito melhores ou diferentes do que aquelas que já estavam sendo vendidas pelo mercado. Mas eles não podem fazer nada. A ação do órgão se restringe a liberar medicamentos que tenham efeito sobre a doença identificada. E o produto irá agir, já que ele é uma cópia de outros medicamentos que já atuam sobre a doença. Então não há muito o que fazer nesse sentido.

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Eu propus em meu livro um programa de reformas vitais para o setor. Talvez a mais importante seja a criação de uma norma que determine que as companhias comparem com maior rigor o desenvolvimento de “novas” drogas que são uma cópia daquelas já fabricadas pelas empresas. No sistema atual, essa comparação, que é necessária para que haja a liberação do FDA, acontece com produtos de baixa qualidade, com “pílulas de açúcar”. Então, nessa história, compara-se um novo lançamento com alguma coisa que é melhor que nada. Isso torna possível que as companhias continuem colocando no mercado produtos copiados, em vez de investirem realmente em mercadorias de que a população precisa urgentemente. Essa população conta com o aparecimento de avanços científicos importantes, que os laboratórios podem e devem coordenar.

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Para se ter uma ideia, há questões éticas nisso também. Os laboratórios dão presentes e privilégios para os médicos. Eles provavelmente gastam bilhões de dólares ao ano cortejando os doutores. Isso é evidentemente um absurdo. Contamina o sistema porque deixa o médico desconfortável, menos propenso a realizar críticas e a ser imparcial em relação a alguma marca, por exemplo.

...é muito ruim para os pacientes. As companhias do segmento gastam milhões de dólares em campanhas publicitárias, mas aplicam bilhões para seduzir os médicos. Pode parecer loucura, mas não é. O jogo de sedução começa na universidade, onde são distribuídas amostras grátis para os futuros médicos, são pagos almoços e distribuídos brindes. Os futuros médicos aprendem absurdos. Podem chegar a acreditar que os melhores medicamentos são os mais novos, recém-lançados.

 

 

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