O ESTADO
      Campo Grande (MS), fevereiro de 2003
 
                                         por Michelle Rossi
 
O curso de Filosofia Clínica em Campo Grande teve sua aula 
inaugural neste domingo, com a presença do gaúcho Lúcio Packter, 
precursor da nova área que vem despertando o interesse de médicos, 
psiquiatras, psicólogos e filósofos do Brasil e do mundo. 
 
          
                  aula inaugural em Campo Grande
 
"O curso está aberto a todas as pessoas que já possuem graduação em área 
de humanas e ciências médicas", diz o filósofo clínico que volta todo 
o mês a Campo Grande para acompanhar o andamento do curso de  
dois anos, que possui o apoio da Associação dos Filósofos de 
Mato Grosso do Sul.
 
Mas você já ouviu falar em Filosofia Clínica? O conceito começou a ser 
formulado na década de 80, por Lúcio. "Minha família possui vários 
médicos e quando jovem ficava nos consultórios observando aquela 
gente angustiada a espera de tratamento. Percebi desde pequeno que 
era necessária também  a medicina para a alma, não só para a carne", 
relata Lúcio. Depois da graduação em filosofia na PUC, do Rio 
Grande do Sul, os conceitos começaram a ser aplicados à clínica. 
 
A filosofia clínica é um novo instrumental para compreender o mundo 
e poder interagir com ele de maneira mais positiva e salutar. São 
aplicadas as doutrinas de grandes filósofos, como Sartre, Platão, 
Sócrates e Nietzsche, ao dia-a-dia das pessoas.  
 
O profissional atua em  casos de problemas existenciais humanos, 
enquanto a psicologia age sobre distúrbios comportamentais. Explico.  
Às vezes as pessoas não conseguem sair de uma crise provocada pelo 
fim de um casamento, por exemplo, ou então uma pessoa se encontra 
em estado de depressão. Afastado o risco de ser um problema orgânico, 
o profissional "puxa" o histórico do paciente para compreender porque 
a pessoa não consegue sair ou enfrentar o problema que a aflige. 
"Durante as sessões o paciente conta sua história desde a infância e 
eu o escuto fazendo  o mínimo de interferências possíveis, para que 
não haja contaminação do conteúdo da história de vida do paciente. 
É ele que direciona o rumo da história, não eu", complementa Packter.
 
Sem Rótulos
 
A filosofia clínica não rotula, nem classifica uma patologia, mesmo 
porque a nova ciência não acredita que haja uma pessoa doente ou 
anormal (não estamos falando de doenças biológicas). "Cada um tem 
um histórico de vida diferente, e é preciso  contextualizar a história 
da pessoa que está em 'tratamento'. Pessoas pacatas podem se tornar 
monstros ou heróis, dependendo da situação em que se encontram",
 continua. 
 
Mas uma pessoa com um histórico de uma infância com muitas 
dificuldades financeiras e sem o amor da família não é justificativa 
para que ela se torne uma pessoa agressiva na maturidade (pode ser 
uma propensão). Enquanto uma pessoa que nasceu em uma situação 
oposta a primeira pode ficar extremamente agressiva, e sem 
motivo aparente. 
 
Rótulos e classificações de anomalias na personalidade humana não 
acontecem na filosofia clínica. "Combatemos a coisificação de pessoas, 
não existe um doente, existe toda uma contextualização de problemas 
que são reais ou imaginários. O que a pessoa precisa saber é 
como enfrentar situações", diz.
 
Diagnosticado o problema,  o filósofo clínico já percebeu quais são os 
dispositivos que a pessoa utiliza para enfrentar situações difíceis, ou não,
e cada pessoa possui dipositivos diferentes, como por exemplo ler livros 
de determinado autor, ou então simplesmente,  conversar com os 
amigos. "O profissional alerta o paciente sobre como enfrentar o 
problema do jeito dele".
 
O papel do filósofo clínico que começa a ser difundido em Mato 
Grosso do Sul é trazer o conhecimento filosófico para o cotidiano das 
pessoas, com o objetivo de ajudar a equacionar problemas existenciais.
A medicação não é utilizada em tratamentos realizados por este 
profissional. "Não possuímos autorização para tal e também não é a 
nossa forma de resolver problemas. Se o problema do paciente tiver 
razões biológicas, trabalhamos em parceria com médicos", afirma.
 
Profissionais
 
Atualmente existem aproximadamente 2.500 profissionais que 
atuam nesta área. O filósofo clínico pode atender a clientes em hospitais, 
escolas, empresas, consultórios e diversas outras instituições. Como 
outros profissionais terapêuticos, o atendimento acontece por sessões. 
As sessões se prolongam, em média, de seis meses a um ano, a depender 
do problema da pessoa. 
 
Serviço
 
Maiores informações no site: www.filosofia.com.br ou pelo telefone 
9904 4377, com Miguel (presidente da Associação de Filósofos de MS)