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CORREIO DA PARAÍBA ( setembro de 1998 ) "A Cura pela Filosofia" A Filosofia Clínica chega amanhã à Paraíba, depois de fazer sucesso no Ceará e em mais nove estados brasileiros. A Paraíba é o terceiro estado do nordeste (a Bahia também tem) a se interessar por esta nova forma de terapia da qualidade de existência do indivíduo, uma abordagem semelhante à que é feita pela psicanálise e pela psicologia. A nova abordagem terapêutica, com base em nada menos que 2500 anos de tradição filosófica do Ocidente, é criação do filósofo e professor gaúcho Lúcio Packter que faz palestra amanhã, a partir das 19 horas, no auditório 411 do Centro de Ciências Humanas , Letras e Artes (CCHLA), da UFPB. Aberta ao público, a palestra lançará as bases da terapia junto aos professores e estudantes da área. Diretor do Instituto Packter, com sede em Porto Alegre, Rio Grande do Sul (fone 051 – 330 66 34), o filósofo pretende implantar na Paraíba, junto à UFPB, um curso de Especialização com duração de um ano e meio (sendo o último semestre dedicado ao estágio prático) destinado aos graduados na área. A terapia é baseada na tradição filosófica ocidental, um rico e vasto campo de pesquisas e indagações a respeito do que é a razão, como funciona a consciência, quando surgiu o primeiro lampejo conceitual, quando começou o homem a teorizar. A tradição pré-socrática, o empirismo, a Filosofia da Linguagem são algumas das correntes filosóficas presentes no instrumental de avaliação da pessoa feita pelo terapeuta. Lúcio Packter informa que o filósofo clínico busca as soluções para o problema existencial do cliente sem qualquer deslocamento do contexto em que ele vive. Integrando o cliente cada vez mais à própria realidade, o filósofo vai conseguindo contrastar os fatos que causam o desequilíbrio, o mal-estar que faz com que a pessoa se sinta despreparada para integrar-se ao grupo social ao qual pertence e aos grupos junto aos quais atua profissionalmente e como cidadão. A terapia se desenvolve sem procedimentos clínicos pré-determinados, não há nenhum leito de Procusto nem um esquema ao qual tenha que ser enquadrada a pessoa que se submete à terapia. O contato entre o profissional e o cliente vai determinando o melhor caminho, o método de abordagem a ser seguido. Tampouco a terapia se realiza apenas no consultório. Pode ser ao ar livre, numa praça, durante caminhadas, em qualquer lugar escolhido pelo cliente, de forma a que ele se sinta totalmente à vontade e facilite o processo de equilíbrio que procura. Pesquisa – A maioria das pessoas no país ainda desconhece a Filosofia Clínica, apesar de a terapia já ser uma realidade no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Bahia, Amazonas e Ceará. Um paciente, exaustivo e pioneiro trabalho de pesquisa realizado por Packter ao longo de 15 anos determinou o padrão da terapia que num primeiro estágio se constitui no chamado levantamento categorial, através do qual o terapeuta configura o padrão de convivência do cliente com o problema que o inquieta. Também neste primeiro estágio, o filósofo verifica que tipo, qual a estrutura do pensamento em análise, verificação que vai possibilitar o conhecimento das contradições, das fontes de tensão e desarmonia. Vencida a etapa inicial, chega o momento dos chamados submodos da terapia. Neste estágio, o filósofo vai identificar que mecanismos de ajuste poderão ser mobilizados, com base na corrente filosófica que melhor trabalhou o tipo de inquietação que foi identificada. Se a pessoa sofre de angústia, o existencialismo cristão de Kierkegaard pode oferecer respostas. Se a questão é crise de identidade, a arquitetura tumultuada da obra de Nietzsche é capaz de oferecer uma saída. Nada assim mecânico, a terapia é sofisticada o suficiente para escapar de dirigismos pétreos. Importante, entretanto, é que ela se apresenta não enquanto oráculo definitivo e sim um instrumento capaz de ampliar o fluxo das informações com as quais a pessoa conta para harmonizar o convívio em sociedade. Mais uma conquista para o próximo milênio. |
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