FOLHA DO ESTADO - CUIABÁ
22 DE JUNHO DE 2001
Filosofia Clínica
Está em Cuiabá o filósofo gaúcho Lúcio Packter, fundador da Filosofia Clínica, para apresentar a toda a comunidade cuiabana como funciona este trabalho que representa um novo conceito em terapia. Para isso, foram realizadas ontem as primeiras palestras, dando seqüência hoje no auditório do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Mato Grosso, as 14h. Este tratamento, que se soma aos demais, não faz uso de medicamentos.
A base da Filosofia Clínica é reconhecer os conflitos existenciais que cada pessoa traz consigo e, a partir disso, trabalhar no sentido de amenizá-los. Isso consiste no conhecimento da Filosofia acadêmica direcionada à terapia, com a atenção voltada para o indivíduo como um todo e o meio em que vive. As práticas aplicadas têm fundamento nas idéias de antigos filósofos como Sócrates, Platão, Aristóteles, Kant, entre outros.
A Filosofia Clínica é desenvolvida no Brasil desde os anos 80, quando Packter, que havia conhecido experiências semelhantes no exterior, desenvolveu uma nova abordagem no país.
Atualmente, existem cursos e associações em vários estados, como Goiás, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.
De acordo com Packter, Sócrates, 470 a.C. concentrava o interesse na problemática do homem, provocando e estimulando o diálogo. Depois de ouvir atentamente, levava o interlocutor, através de perguntas, a construir um significado para as suas questões e para a sua vida. "Era uma filosofia para a vida", descreveu.
A terapia acontece mais ou menos assim. Num primeiro momento a pessoa relata a própria história de uma maneira um tanto ordenada, possibilitando uma ordenação e compreensão de sua vida. Essa vivência é contata de forma espontânea, natural, sem indução do clínico. Depois o filósofo clínico contextualiza o problema e descobre como a pessoa se estruturou internamente.Dados importantes como ciclos repetitivos, padrões existentes ou questões que estão causando o mal-estar existencial podem ser detectados.
"Após esse processo, o profissional buscará junto à pessoa as ferramentas necessárias para dar continuidade ao trabalho, visando conscientizá-la de seu funcionamento interno", explicou.
Além disso, qualquer lugar pode ser usado para se fazer o atendimento, seja em consultório, no parque, na rua, num bar, na casa da pessoa, etc. As consultas duram em média 50 minutos, necessariamente uma vez por semana. O direcionamento final depende de cada pessoa, pois a alta é dada quando o bem-estar é restabelecido. A decisão, no entanto, é tomada por paciente e clínico.
Formado em Filosofia, Lúcio Packter avalia que este tipo de terapia se difere porque não trabalha com medicamentos nem conceitos de cura.
"Para a Filosofia Clínica não existe o conceito de normal e patológico pelo fato de que a estrutura de pensamento de cada indivíduo é plástica, portanto, cada um é visto na sua singularidade. Isso significa que não existem rótulos ou conceitos onde ele poderá ser encaixado."
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