Diário da Manhã
01 de maio de 2006
A Cura pela Filosofia
Conhecimento pode ser útil em tratamento de depressão, insônia,
stress
Pablo Hernandez
Da editoria de Cidades
A Filosofia sai
das prateleiras das bibliotecas e invade os consultórios. Cresce cada vez mais o
número de especialistas em Filosofia Clínica, terapia que promete ajudar pessoas
que sofrem de depressão, insônia, estresse, angústia e outros males da alma
humana. O precursor da terapia é o filósofo gaúcho Lúcio Packter, 43, que há 15
anos começou seus estudos nesta área.
“Fazemos um
histórico da vida das pessoas para encontrar os elementos que estão incomodando
e ocasionando os problemas”, explica Packter.
Ele é um dos
principais convidados do VIII Encontro Nacional de Filosofia Clínica, que
começou ontem em Goiânia e vai até segunda-feira.
Os especialistas em Filosofia Clínica no Brasil já somam cerca de 4 mil
profissionais. Até o final do ano, mais 500 devem estar no mercado.
“Hoje, ela já
existe desde Manaus até o Rio Grande do Sul”, afirma o filósofo.
O tema virou curso de
pós-graduação e já é ministrado em dezenas de cidades brasileiras. No ano que
vem, será realizado no País um encontro internacional. A cidade sede será
escolhida durante o encontro em Goiânia.
“Em breve iniciam
também turmas na Europa”, conta.
(matéria de página inteira)
Hospitais – A Filosofia Clínica consiste em direcionar e elaborar, a
partir da metodologia filosófica, procedimentos de diagnose e tratamento
endereçados a questões existenciais. Algumas técnicas são aplicadas também em
hospitais, clínicas, escolas e ambulatórios. A área de conhecimento é procurada
também por outros profissionais.
“Temos médicos,
psicólogos e em Porto Alegre até dentistas utilizam a Filosofia Clíncia em sua
área de atuação”, conta.
O filósofo diz que depois de ter levantado um histórico sobre o paciente, a
terapia é feita seguindo métodos lógicos, como Analítica da Linguagem e
Epistemologia (como o indivíduo compreende o mundo e ele mesmo).
“Algumas pessoas se sentiriam mais felizes se pudessem, por exemplo, fazer as
coisas com maior liberdade”.
Método é contestado
entre psiquiatras
(filósofo gaúcho Lúcio
Packter: tratamento à base de liberdade)
A Filosofia Clínica
não segue sem receber críticas. Segundo Packter, alguns psicólogos e psiquiatras
contestam a terapia. E até mesmo outros filósofos.
“Não há problema; a
própria Filosofia existe para refletir, criticar”, diz.
Ele lembra que mesmo
com críticas, os profissionais que procuram fazer especialização em Filosofia
Clínica em grande parte são médicos e psicólogos. Um dos casos de médico
psiquiatra que se especializou em Filosofia Clínica é João Batista de Castro,
presidente da Associação Goiana de Filosofia Clínica.
“A Psicologia
trabalha com o comportamento, enquanto a Filosofia lida com a existência”,
explica João Batista de Castro.
“Ela não é a última verdade, mas está aqui para somar”, conclui. Em
Goiânia, já são cerca de 40 profissionais, e no interior, outros 60 nas cidades
de Anápolis e Rubiataba.
Origens – Na Grécia antiga, os primeiros filósofos eram especialistas em
curar males da alma. Sócrates (479 a.C.) costumava sentar-se nas ruas e praças
para conversar com as pessoas, que procuravam aconselhamentos com o filósofo em
busca de soluções para seus problemas.
O Aconselhamento Filosófico na era moderna data de 1981, praticado por Gerd
Achenbach, na Alemanha. Com a elaboração de uma metodologia para a atuação de
conselheiros, a corrente se espalhou pela Holanda, Noruega, Áustria, França,
Suíça, Grã-Bretanha, Canadá, Estados Unidos e Israel, entre outros países. Na
Europa ela recebe também o nome de Filosofia Prática
Reflexão é o
segredo da Terapia
Não pense que ler
tudo o que os filósofos escreveram faz parte do tratamento. O importante é o
paciente começar a refletir sobre aspectos que o afligem e o que pensa a
respeito.
“Algumas pessoas
não gostam de ler, por isso, preferimos nesses casos conversar. E isso não
precisa necessariamente ser feito em um consultório; pode ser em um parque, na
universidade, em um bar”, explica Packter. “Depende de cada um”,
completa.
Foi na terapia feita durante caminhadas que Roberto (nome fictício), 35,
conseguiu, através da Filosofia Clínica, explicações para uma angústia que o
acompanhava.
“Eu estava com a
cabeça bagunçada, perturbada, era um conjunto de sintomas”, conta.
Caminhadas – Não precisou muito para ele conseguir o que procurava.
Roberto teve sete sessões em um período de dois meses. “Encontrei um rumo.
Foi perfeito, escutei aquilo que precisava ouvir. Abriu minha cabeça”,
afirma. Todas as sessões foram realizadas, segundo ele, em caminhadas por
parques. “Gosto de caminhar e quando faço isso, penso melhor e falo mais”,
explica. “Acho que até perdi uns quilinhos”, brinca.
Depois das sessões de Filosofia Clínica, restou para Roberto um gosto pela
leitura relacionada ao tema. “Consegui o autoconhecimento que queria e ainda
conheci melhor pensadores que hoje fazem parte das minhas leituras, como
Nietzsche e Platão”, conta.
Saiba Mais
Filosofia Clínica
É o uso do conhecimento filosófico direcionado ao tratamento do indivíduo.
Tratamento
O filósofo procura conhecer a história de vida do indivíduo, compreender seu
cotidiano e assim identificar os males de seu mal-estar, para eliminá-los. Não
há uso de medicamentos. Todo o tratamento é realizado pelas conversas ao longo
da terapia.
Indicações
Depressão, insônia, estresse e angústia.
Quem é filósofo clínico?
Profissionais graduados em Filosofia e com pós-graduação em Filosofia Clínica.
Como se tornar um filósofo clínico
· Para freqüentar a
especialização, o interessado tem que ter algum curso superior. Se não tiver
graduação, faz o curso em caráter de extensão universitária.
· Para se tornar um
filósofo clínico é preciso ter a graduação em Filosofia e a pós-graduação em
Filosofia Clínica e passar por estágios supervisionados.
· Quem quiser
informações sobre o curso de Filosofia Clínica deve ligar para o Instituto
Packter pelo telefone (51) 3330-6634.
· O site para
informações é o www.filosofiaclinica.com.br
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