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Filosofia Clínica busca o equilíbrio jornal O Progresso - Dourados (MS)
A Filosofia Clínica é uma nova e moderna maneira do ser humano de buscar o equilíbrio e bem-estar através de um procedimento terapêutico que visa a atividade filosófica aplicada ao individuo. Em entrevista ao O PROGRESSO, Cláudia Peruzzo explica sobre os métodos da Filosofia Clínica. Cláudia é graduada em Filosofia e com pós-graduação pelo Instituto Packter/Faculdade Bagozzo (Curitiba/PR), além de inúmeras extensões e pesquisas – entre elas na Universidad Complutense de Madrid, na Espanha – ela (que também é membro da Comissão de Ética da Associação de Filosofia do Estado do Mato Grosso do Sul), acompanha em Dourados as turmas de pós-graduação em Filosofia Clinica pelo Instituto Packter.
O que significa a premissa de que não há fórmulas prontas na terapia filosófica? É simples. O atuar do filósofo clínico junto ao seu partilhante (como são chamadas as pessoas que escolhem filosofia clínica para terapia), deve considerar a pessoa, o ambiente que a cerca, a história, enfim, todo o seu contexto. Supondo que tenhamos um grupo de crianças com experiências iguais, que sejam amamentadas de modo igual, assim mesmo cada uma delas terá uma leitura singular do mundo. Cada pessoa em cada circunstância encontrará coisas que lhe são particularmente significativas, outras sem significado algum. Pessoas que viveram no contexto da Europa Central, após duas guerras, lidaram de modo diferente com um episódio único. Umas enlouqueceram, outras construiram teorias como o existencialismo, outras ainda usaram da música e de outras artes como forma de externar essa experiência. Como se pode imaginar então que diante de um ser humano tenhamos fórmulas prontas para o que ele traz na sua vida, em sua alma? No mínimo, seria uma pretensão.
Hoje, onde podemos encontrar a atuação dos filósofos clínicos? O trabalho mais direto com os partilhantes é feito em clínicas, onde o atendimento é individual. Os profissionais especializados em filosofia clínica no entanto, são chamados a levarem seus trabalhos para a educação e mesmo hospitalarmente, visando os objetivos de cada setor. Ainda temos os formados em outras áreas (pedagogia, direito, medicina, psicologia, psiquiatria, etc), que não a filosofia que vem cursando a pós-graduação (sendo habilitados para a pesquisa) e se utilizando largamente da filosofia clínica aplicada diretamente ao ambiente de trabalho de cada profissional, e mesmo não raro nos relacionamentos interpesoais.
Quem procura o atendimento de um filósofo clínico? Qualquer pessoa pode ser um paciente? Existe uma idade para isso? Há pessoas que tem uma questão bem definida e sabem exatamente o motivo de estar na clínica. Pode ser que a causa da reclamação não seja a causa última, mas existe clareza da questão. Em geral, pessoas que desejam amenizar uma dor em sua existência. . Existe, porém, quem deseja conhecer a si mesmo, entre outros fatores, e mesmo quem vá contra a vontade própria, orientada. Eu retifico na pergunta o termo paciente: consideramos partilhantes. Na filosofia clínica parte-se do princípio de “um modo de ser no mundo”, trabalha-se com um ser único, não com um doente. Não curamos as pessoas, caminhamos junto com elas e modificamos juntos um caminho, quando este não está agradável ao nosso partilhante. Existe uma verdade única que habita células e coração de cada ser, cada pessoa é a medida de todas as coisas,como dizia o filósofo Protágoras. Nossos clientes partilham com o filósofo clínico uma existência que é só sua – dores, angústias, buscas, vergonhas, vontades – e merecem acima do nosso profissionalismo, o nosso respeito. Com referênca à idade, existem trabalhos com crianças, adolescentes e adultos. Como a base da clínica é a historicidade, quem trabalha com crianças conta também com relatos de pessoas próximas (pais) assim também como nos atendimentos de emergência muitas vezes é necessário contar com relatos de parentes para dar início a trabalhos envolvendo traumas ou estados de choque.
Como, então, concretamente, um filósofo clínico pode ajudar uma pessoa que tenha como reclamação um relacionamento amoroso com dificuldades? O filósofo clínico parte da historicidade dessa pessoa e encontra nela quais são os tópicos determinantes de sua estrutura de pensamento. Hipotéticamente: se a queixa for relacionada a ciúmes, encontramos como tópico forte nesta estrutura a epistemologia. Podemos trabalhar com textos, livros ou algo mais que a leve à compreensão dos fatos, porque isso para essa pessoas seria muito importante, conhecendo e entendendo o que se passa soluciona-se o problema. Se o que lhe incomoda é um “jeito” do outro e se detecta que um parceiro é predominantemente racional enquanto outro parceiro é emotivo, aí há outra linha de trabalho. A união de um tópico predominante a outro tópico de peso também significativo pode alinhar a estrutura de pensamento desse partilhante, levando-o assim a analgesia do que antes lhe fazia sofrer, de coisas que lhe angustiavam.
Considerações finais Obviamente, esses exemplos são simplórios. O que precisamos esclarecer é que cada ser se estrutura de uma maneira e que mergulhando nessa subjetividade mostramos ao partilhante o que é potencialmente possível fazer para que sua existência seja o mais agradável possível. Mesmo que não concordemos, a satisfação em viver desse ou daquele modo é que evita que as pessoas sejam bonecos em série. Se uma pessoa acredita que mudar seu modo de viver é benéfico para ela, não somos nós que devemos nos opor. O homem está condenado a ser livre, como dizia Sartre, e desejamos que cada um que procure partilhar o seu caminho, manifestar os seus limites, seu sistema, se apresentar ao mundo e viver como para ele for melhor viver.
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