Filosofia vai para o consultório
Estado de São Paulo - Folha da Tarde
novembro de 2005
Por
Leandro Quintanilha
A
psicologia busca o autoconhecimento. A filosofia, também. A psicologia investiga
a relação do indivíduo com a sociedade. A filosofia, também. A psicologia tem
pouco mais de 100 anos. A filosofia, 2,5 mil. A psicologia propõe terapias. A
filosofia, agora também.
Os acadêmicos Lúcio Packter, no Brasil, e Lou Marinoff, nos Estados Unidos,
foram os pioneiros no emprego de conceitos como "filosofia clínica" e
"aconselhamento filosófico" na década de 80. Eram trabalhos diferentes,
paralelos, mas com um propósito comum: aplicar a filosofia ao cotidiano para
ajudar as pessoas a lidar com angústias existenciais desencadeadas por episódios
da vida prática, como o término de uma relação ou a insatisfação com o trabalho.
Agora, 20 anos depois, Packter e Marinoff colhem os frutos. O brasileiro, de
Porto Alegre, autor do livro "Filosofia Clínica", viaja o Brasil para proferir
palestras sobre o assunto e auxiliar universidades a implantar cursos de
pós-graduação na área. Marinoff, professor da Universidade de Nova Iorque e
presidente-fundador da Associação Americana de Orientadores Filosóficos,
tornou-se um dos autores de não-ficção mais vendidos no mundo, com "Mais Platão,
Menos Prozac" e "Pergunte a Platão".
A filosofia clínica, como explica Packter, diagnostica e trata sofrimentos
existenciais e pode útil, não só no consultório, mas também em escolas,
ambulatórios, hospitais e até igrejas. "A grande diferença em relação à
psicologia, à psiquiatria e à psicanálise é que, na filosofia clínica, não há
conceitos como normal e anormal, doença e cura." Por isso, o termo 'paciente'
não é apropriado. Ele se refere a seus interlocutores simplesmente como pessoas.
No Brasil, a especialização em filosofia clínica já é oferecida em instituições
públicas e particulares, de Manaus a Porto Alegre. No Estado de São Paulo, a
Universidade Moura Lacerda, em Ribeirão Preto, oferece a pós-graduação há 4
anos. A capital paulista e as cidades de Campinas, Santos, Sorocaba também têm
centros de formação autorizados.
Remédio para a vida fazer sentido
Lou
Marinoff ressalta que o aconselhamento filosófico não é um tratamento adequado
para quem sofre de distúrbios severos. Mas, para ele, a maioria das pessoas
sofre por não saber como lidar com questões ético-emocionais, não por estarem
doentes. "Vivemos numa cultura que nos induz a tomar remédio para tudo - para se
sentir bem, perder peso, transar, dormir, acordar...", critica. "Em geral, as
pessoas só precisam de diálogo, exercício que nos ajuda a dar sentido, propósito
e valor à vida." Para tudo isso, ele prescreve Platão.
Com
ou sem orientação
Filosofia clínica e aconselhamento filosófico não são exatamente a mesma coisa.
A primeira consiste da análise dos valores, da visão de mundo, dos medos e dos
anseios do indivíduo, por meio das idéias dos grandes filósofos, para que se
compreenda como ele pensa. E se a estrutura dessa forma de pensar está, de
alguma maneira, relacionada ao seu sofrimento.
A
filosofia clínica pode ou não contar com aconselhamento psicológico, que é uma
orientação prestada pelo terapeuta filosófico ao indivíduo sobre as correntes de
pensamento que, a seu ver, podem ajudá-lo a se conhecer melhor e a ser mais
feliz.
Serviço
- Filosofia Clínica, de Lúcio Packter, Editora. AGE, disponível para leitura
gratuita na internet:
www.filosofiaclinica.com.br
- Mais
Platão, Menos Prozac, de Lou Marinoff - Editora Record
- Pergunte a Platão, de Lou Marinoff - Editora Record
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