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Carta 4

 

 

 

 

   
Jornada de Estudos 2011 - Escócia - Carta 3

Cartas de Lúcio Packter, semanais, que os colegas recebiam a cada segunda-feira.

                                          

Querido colega,

Escrevo do sul de Santa Catarina, onde uma vez ao mês venho dar aulas na Universidade do Extremo Sul Catarinense e fazer o programa de rádio ao vivo.

Bem, continuemos nossas conversações sobre a Escócia.

Sobre vestuário, quanto levar, providências a tomar, aquelas dez mil coisas de viagem que são apenas umas três ou quatro, não me ocuparei delas nestas cartas. Basta ler o que escrevi nas cartas para Grécia e Israel, que os meninos colocaram online, para se ter uma ideia sobre isso. Tudo o que está lá nas cartas segue sendo atual. Por isso, temos aqui a chance de aprofundar as conversações em direção a elementos outros. 

Não sei de Merleau-Ponty esteve na Escócia e pouco conheço de suas andanças pelo mundo, mas ao ler O Olho e o Espírito, aquelas considerações sobre perspectiva, as citações de pintores e autores encadeados, típicas no filósofo, sobretudo sobre as composições, temos a Escócia. Ele a explica sem citar uma só vez. Não se pode conhecer aquele país em linha reta, não se pode viajar correndo, não há como ser inglês após Edinburgh, e a chance de se vivenciar os cartões postais daqueles cenários é precisamente em perspectiva. Não é isso o que costumam dizer, mas é isso que costumam viver. A história escocesa possui muito desta concepção geográfica das coisas, um lugar onde a filosofia e a política são questão de montanhas. E lagos e verdes e mares emolduram os vales. A Escócia é um país de língua inglesa que não parece ser. Aqueles carregamentos no érre, a cadência e a arrancada propiciam a muitos visitantes a impressão amiga de que os nativos também são visitantes. E isso é quase uma verdade, se tomarmos o jeito amistoso do escocês.   

Como você faz quando está diante de um vale no qual o sol ilumina delicadamente as encostas farpadas dos cumes, um lago sereno e azul se encosta suavemente entre uma campina e um promontório, e as nuvens desenham ao redor do céu de outono? A paisagem vai lá e nós aqui? Nós e paisagem nos mesclamos? Nos tornamos paisagem? Ou o que? Merleau-Ponty, não é? 

Penso que parte das respostas a isso a gente descobre lá. É a melhor parte.

Um abraço,

Lúcio

(21 de março de 2011)