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16 de maio de 2010 Queridos colegas, Escrevo de Cuiabá. Entre palestras, aulas, reuniões e outras funções por conta do XII Encontro Nacional de Filosofia Clínica, que se realizará de 3 a 6 de junho, escrevo do aeroporto esta carta. Algumas palavra hoje sobre a política em Israel. Imagine uma democracia cujo funcionamento é um desafio à própria democracia. Imagine isso. Para se ter uma ideia do que escrevo, o sistema eleitoral israelense permite que um partido minoritário religioso tenha um poder que destoe dos votos recebidos. Mas ninguém governa em Israel sem fazer coalizões. Quem vence deve conversar com os demais, sempre. Em um país no qual os homens e suas leis têm como referência antiga e direta as leis de Deus, a democracia ganha um tom diferente. A república parlamentarista democrática de Israel tem um órgão legislativo: o Knesset (Parlamento); 120 membros eleitos a cada quatro anos. Knesset, em hebraico, quer dizer assembleia. Os eleitores vão votar em partidos e não em indivíduos. Quem está no executivo formará o gabinete, que é liderado pelo primeiro-ministro. O primeiro-ministro é feito por indicação do presidente, depois deste consultar os políticos dos partidos no Parlamento (lembre: quem ganha em Israel deve conversar!). É muito comum que o presidente indique o primeiro-ministro após uma matemática simples na qual conta o número de cadeiras parlamentares que um partido tem. Mas há exceções. E o presidente? Como é eleito o presidente em Israel? É eleito pelo Knesset a cada cinco anos. Governar em Israel é extremamente difícil. O equilíbrio não existe e praticamente a pergunta que permanece é quem é o incomodado da vez. Mas não existe semelhança entre o que é a política no Brasil e o modo e a maneira da política em Israel. É essencial compreender que o político israelense está comprometido, vive sob estado constante de tensão e responsabilidades urgentes. De um modo geral, já se acostumou com isso. No Brasil, nossos políticos, em geral, estão comprometidos com o que mesmo...? Se você tiver a oportunidade de conversar com israelenses sobre política, sugiro prudência. A política brasileira, com seus problemas típicos, soa infantil e irresponsável a um israelense médio. Política, em Israel, não é bate papo de bar, é uma questão que envolve saber se o país existirá amanhã. O assunto é sério. Bem, para finalizar, estava ouvindo a linda canção que foi colocada em nosso informativo da Semana de Estudos 2010. Mas que linda canção, bah! O nome é Wasted On The Way, de Crosby, Stills & Nash. Resumindo a letra: um cara está velho. Olha ao redor, vê os passos que percorreu, percebe que atingiu mais do que desejava, mas não exatamente o que sua alma pedia. Constata que desperdiçou tempo, vida, mas que ainda é possível fazer as pazes. A questão é fluir com a água, deixar-se ir, aprender. Um abraço, Lúcio
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