30 de junho de 2010

Querido colega,

Hoje escrevo de Poços de Caldas. Como pode imaginar, workshop, aulas, entrevistas. Há pouco estivemos na apresentação ao ar livre da Filarmonica de Minas Gerais. Tocaram nossos clássicos regionais, o rococó, o baião, o batuque.

Bem, hoje falaremos sobre fotografia em viagem, o modo de documentação que é usualmente o mais utilizado por viajantes em geral.

As máquinas digitais parecem estar em todas as partes, como os celulares, as mochilas, os lap tops. Muitas delas nem parecem máquinas fotográficas; tomaram forma de canetas, chaves, telefones. Mas são exatas, compactas, podem armazenar centenas de imagens.

Um dos problemas mais correntes em fotografia é pressupor que as lentes da máquina veem o mundo com a seletividade do olho humano. Não veem, claro, e é por isso que aquela linda folha de final de outono que você fotografou apareceu depois perdida entre milhares de outras e em um canteiro de árvores. Uma dica: a foto terá a aparência aproximada do que se vê no monitorzinho da máquina. Há exceções, como fotografar contra o sol e ter vultos indiscerníveis. Isso já aparecia no monitorzinho, aquele vidrinho quadrado onde a gente põe o olho ao bater a foto, mas tem gente que não acredita naquilo. Outras exceções dizem respeito a tremer a mão, pouca luz, um flash que faz tudo parecer de plástico. Agora, se estas coisas acontecerem muito, deixarão de ser exceção.

É comum que fotógrafo iniciante não conheça perspectiva, desconfie de sutilezas, que seja duro com a paisagem, transforme os amigos naquelas fotos de carteira de identidade. Viajar com fotógrafo iniciante metido a engraçadinho é chato. Ele fotografa a gente se alimentando, boca aberta, ou dormindo com o branco do olho aparecendo, e, estranhamente, em qualquer ângulo a gente parece gordo ou padecendo de alguma dor.

Um dos itens essenciais da fotografia é o tema. Por exemplo: tem quem em Israel use os fotogramas para documentar pombos, saguão do hotel, o avião que os levou até Tel Aviv. Sem problemas, apenas questão de gosto. Tem quem documente o rosto de seu colega de quarto em 75% da imagem e em 25%, mal se notando, o mar da Galiléia.  Sabe aquelas imagens do tipo “estive aqui”? E tem sujeitos como eu que retratam um vasinho de flor do deserto sobre o parapeito de uma sacada com um grupo de árabes trocando moedas em um mercado público lá embaixo.

Nossas fotografias podem ser um documentário da viagem, mas podem ser também uma agenda pessoal com apontamentos sobre o próprio rosto em diversas localidades, podem ser outras coisas também. E podem ser um pouquinho de tudo isso. Nossas fotos podem falar de nós, dos outros, da vida, podem dizer coisas que não sabemos, podem contar o que não queríamos, podem ser somente fotos.

Alguns viajantes fariam mais se comprassem cartões postais e deixassem a máquina em casa com o sobrinho. Outros, são bons fotógrafos, mas perdem muito tempo com isso ou ficam aborrecendo quem não tem nada a ver. Outros, são bons fotógrafos e conhecem etiquetas ligadas à fotografia.

Não é uma regra, mas provavelmente a fotografia é um olhar mais demorado sobre algo, um olhar sobre algo que se deseja guardar.

Estas são algumas dicas e opiniões minhas sobre a fotografia. Se servir, use, ok?

Um abraço,

Lúcio                                 

 

carta 14

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