06 de setembro de 2010

Querido colega,

Neste feriadão recebemos a visita de meus pais aqui em Porto Alegre. Meu pai é um homem estudioso e suas visitas sempre são acompanhadas de um passeio à Livraria Cultura. Juntos vemos DVDs raros, livros de medicina e filosofia, tomamos um bom café na cafeteria e colocamos os assuntos em dia. Gosto muito disso.

No segundo andar fui até a seção de manuais de viagem e nada encontrei sobre Israel. Achei sobre Turquia, Dubai, Egito, países próximos, mas nada de Israel. Havia uma manual em inglês, mas somente por encomenda.

Um bom manual de viagens é uma recomendação. Ele diz as coisas óbvias, claro, mas para algumas pessoas é uma bússola de navegação, propicia segurança e torna o país distante algo mais familiar.

Mas não se deixe entusiasmar por recomendações de manuais, está bem? São escritos para turista, um bicho esquisito perdido entre a adolescência e a infância.

Acompanhar a lapidação de diamantes e trazer um que vai custar uns 300 reais é assim tão interessante a filósofos? Aquela variedade toda de cosméticos do Mar Morto, coisa para a pele, o cabelo, os ossos costuma ter um forte efeito placebo, e, enfim, sempre parece haver um lugarzinho na mala para um sabonetinho, não é? Para os religiosos (já estou vendo...), o kit do peregrino. Não há terra sagrada que não tenha um.

Mas penso que trazer um potinho com água do Jordão ou do mar da Galiléia, um saquinho com terra de Jerusalém, um galhinho do Monte das Oliveiras, tercinhos, mantos sagrados que custam 40 reais. Por que não?

Costuma causar certo enlevo trazer uma rocha de um lugarejo, colocar junto à lareira, e explicar para um amigo, em uma noite de inverno, que a pedra era parte das muradas de Salomão. Isso, seguido de um silêncio respeitoso e um gole de tinto, é uma parte significativa das coisas, hein?

Mas tudo é tão mais intenso e bonito que coisas assim acabam sendo a menor parte.

Um abraço,

Lúcio

carta 20

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