11 de setembro de 2010

Querido colega,

Escrevo de Cuiabá. Uma névoa das queimadas se espalha pela cidade, cheiro forte no ar. Há cinco meses não chove aqui.

Bem, vamos a Israel.

Sei que cada um dos colegas estuda o tema que foi indicado. Cada tema, por sua vez, se desdobra em novos e aponta em direção ao passado, tanto quanto para questões políticas e históricas. Há dificuldades, claro, em um povo cuja história de quatro mil anos mostra passagens inverossímeis, episódios épicos,

Há tantas passagens instigantes que estudos sobre o tema fazem remeter a outros e outros. Tenha calma. Procure fazer sínteses e considerar o que é essencial.

Israel é sólida, consistente, traz elementos arraigados cuja natureza lembra a rocha. No ano passado estivemos na Grécia; em novembro estaremos com um povo cujo primeiro contato com a cultura do Ocidente foi provavelmente com os gregos, isso em 300 a. C.  Notaremos as diferenças, mesmo centenas de anos depois.

Pelas características judaicas, imagino que deve ter sido difícil este encontro. Muito diferente daquele que houve com assírios, persas e outros. Nem Roma, com aquele temperamento difícil, suportaria depois a soberba grega; imagino Israel recebendo aqueles gregos de Alexandre, gente sensual com deuses promíscuos, o Deus severo e didático do Velho Testamento recebendo hordas de imaturos hedonistas. Helenos licenciosos, cheios de alegria, arrogância, poder, deram muito trabalho aos escribas, aos rabinos, na defesa da etnia, da alma do povo judeu. Nenhum dos povos saiu ileso deste forte encontro. Uma vez ouvi que este encontro é semelhante aos desentendimentos de um casal no qual a mulher está pronta para ir aos serviços pastorais, festas paroquiais, missa, enquanto o marido já tomou um tinto, e, influenciado por Baco, considera a imensa noitada de boates e barulhos que deseja pela frente. É presumível, historicamente falando, que os gregos tenham se tornado mais moderados (não muito!) e que os judeus aprenderam um pouco mais de coisas que já sabiam (pré-juízos).

Escrevo isso porque muitos de nós, brasileiros, nos tornamos gregos quando chegamos à Israel; mas não é improvável sairmos de lá entre moderados e levemente judeus...

Um abraço,

Lúcio

 

carta 21

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