09 de fevereiro de 2010  

Querido colega,

O oeste israelense, que avistaremos logo que chegarmos ao país, tem quase 200 km em seu encontro com o Mediterrâneo. Como em Israel as coisas podem mudar subitamente, é improvável a um viajante novato imaginar que regiões montanhosas logo se precipitem ao norte, ao centro, pelo país. Ao norte, para onde rumaremos em nossa jornada, serenas aguardam as colinas da Galiléia. Colinas é meu modo de dizer as coisas, pois o monte Meron tem mais de mil metros de altura.

Descendo, ao centro, no abismo das montanhas setentrionais, pela planície, estão as colinas da Judéia e Samaria. Pode sonhar com a beleza, tudo é realmente sublime. Mar Morto e o deserto dos profetas, Neguev, ao sul. É assim que me lembro do mapa de Israel. Mas Israel nunca foi seu mapa. Israel provavelmente não cabe em um mapa.

Primeiro que o clima quente e desértico do sul é como a lua em contrapartida ao sol, se sentirmos o norte que é mediterrâneo. Quer aquela brisa amena, suave, romântica de 20 graus? Caminhe pelo litoral. E 50 graus... é a marcha pelo deserto.

Vindo dos cantos da Síria, o rio Jordão entra pelo nordeste, rumo ao mar da Galiléia até desembocar no mar Morto. Fiz todo o seu percurso e dele falarei em outro momento.

Ao andar pelo país, pelas matas arbustivas, pela estepe arbustiva, passamos por  gazelas, hienas, javalis, texugos, lebres. Nos céus e nos arbustos aparecem garças, perdizes, cotovias, cucos. Nas cidades, nas aldeias, nas estradas, nos mares e lagos e desertos estaremos com drusos, muçulmanos, judeus, cristãos, estrangeiros como nós e outros.

Mas tudo isso ainda é o mapa, não é Israel. Uma parte de Israel começará no próximo informativo, quando de fato mencionarei um pouco dos ventos, das areias, do sal do mar... ao contar das aldeias, de como as coisas costumam ser feitas, de jeitos e modos de ser que se conhece respirando e convivendo com aqueles povos do deserto. O mapa então irá se desfazendo, enquanto encontraremos as pessoas, a terra, a vida.

Bem, finalizando a carta desta semana, quero contar de um filme que vi com a Dayde em casa há dias. Eu o comprei no Rio de Janeiro em uma das minhas conexões de Em Busca da Paz.jpgvoo. (Sei que os meninos da assessoria vão colocar a imagem em algum lugar do meu texto.) Um filme sobre a formação do Estado de Israel a partir de meados do século passado, um documentário politicamente correto, como costumam ser os documentários de hoje, sem mocinhos e sem bandidos. Chama-se Em Busca da Paz. A maior parte do tempo fiquei com os olhos marejados, emocionado, tocado entre lembranças, saudades, esperanças, e também tristeza. Música belíssima para combinar com uma triste história dos povos do deserto. David Broza, amigo e parceiro de Jackson Browne, inspirado em seu violão.

Depois, claro, fiquei incomodando o pessoal para me conseguir a canção que diz, entre outras coisas, que tudo acabará bem. David Broza vive em Tel Aviv, é um pacifista, acredita, trabalha para a UNICEF, e sua música nos faz acreditar no que ele acredita.

Na próxima semana conversaremos mais.

Um afetuoso abraço,

Lúcio

 

carta 3

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