01 de março de 2010  

Queridos colegas,

Hoje escrevo de Porto Alegre, dando seguimento às cartas semanais.

Israel conheceu todos os tipos de questões que um país pode prever em sua história. Estas nações, porque é mais apropriado dizer assim, que se tornaram um Estado em 1948, tiveram uma existência atribulada e vivenciaram praticamente todos os eventos históricos: de invasões, divisões, guerras a milagres. Muitas vezes estes episódios ocorreram ao mesmo tempo. A terra provavelmente mais sagrada do planeta foi palco de todas as situações agregadas. E hoje encontramos as marcas destas ocorrências nas pedras, cascalhos, no relvado, no vento, nas pessoas, como contarei nas próximas cartas.

É provável que os árabes tenham sido os primeiros habitantes semitas, até o domínio dos israelitas, que eram nômades. Desde o século VII os árabes viviam ali, mesmo que as terras tivessem diferentes donos.

Os judeus estiveram espalhados por cerca de dois mil anos e foram perseguidos em todos os lugares onde permaneceram, mas nunca esqueceram do Sião durante a diáspora. O exílio estava marcado para terminar. Ao final do século XIX um árduo trabalho cujo objetivo era o de retornar para casa, chamado sionismo, lançou-se com força. Voltar para casa, para onde existe a identidade, para aquilo que manteve um povo disperso e unido, por centenas de anos, e ao voltar encontrar quem esteve desde sempre ali também, alguém com direitos, eis um dilema que poderia ter desfecho melhor, não fossem as circunstâncias de cada um.

A situação histórica de ambos era de dor, maus tratos, abandono. Os árabes viviam com grande dificuldade, magoados pelos ditames do império turco otomano; os judeus, mais de trezentos mil deles, sobreviventes de campos nazistas, não consideravam qualquer parte da Europa como suas casas.

Esta combinação difícil foi um dos berços do Estado de Israel. A convivência nunca foi fácil, mas já foi pior. Neste momento, cada vez mais, surgem pensadores entre árabes e judeus propondo a paz, a conversação. Ainda é tudo muito difícil, mas a esperança vive nos corações e é um anseio da maioria, enquanto uma minoria muito magoada não acredita mais.

E esta, claro, é apenas a minha opinião sobre os fatos. De minha parte, acredito em um entendimento que torne a vida melhor, um entendimento que poderá aparecer em gerações próximas.

Veremos que Israel é um país belíssimo, um lugar onde a melhor e mais avançada ciência da Terra coabita com desertos e vales profundos. E muitas vezes um vento mais forte que soprar do deserto nos fará esquecer e nos fará lembrar da paz e do conflito.

Israel é um país extravagante, se considerarmos os padrões brasileiros como medida, é um país que causa enlevo e que começa a nos ensinar desde sua história.

Um abraço,

Lúcio

 

carta 4

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